Batman – O Cavaleiro das Trevas
Seqüência resgata o melhor de Hollywood
Por Luiz Joaquim | 18.07.2008 (sexta-feira)
É realmente prazeroso entrar numa sala de cinema e descobrir que ainda há vida inteligente em Hollywood. No caso, a inteligência cinematográfica vem da cabeça de Christopher Nolan e a sua equipe, responsáveis pela produção de “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (The Dark Knight, EUA, 2008) estreando hoje neste planeta. Esta é a esperada seqüência do elogiado “Batman Begins”, que em 2005 resgatou o homem-morcego com dignidade para as telas pelas mãos do próprio Nolan. Não se deixe enganar pela propaganda apapaguaiada em torno do lançamento, pois o “O Cavaleiro…” é cinemão clássico (com ritmo e técnica contemporâneos), e é bastante bom exatamente por isso.
Como no filme de 2005, Nolan (também roteirista, junto ao irmão Jonathan) foi aqui sagaz o suficiente para não reduzir “O Cavaleiro…” a um filme direcionado aos fãs. O oposto também não acontece. Fãs não deverão sair da sala menos impressionado que aquele não-iniciados nas desventuras do bilionário Bruce Wayne.
A fórmula do sucesso (se é que de fato existe uma) utilizada pelo cineasta está mesmo na coragem de não subestimar o poder de cognição de seu público. Com a velocidade narrativa própria de um filme-pipoca cuja problemática sugerida pelo enredo dialoga constante e imediatamente com o ritmo da montagem contemporânea, “O Cavaleiro…” sobreleva-se dos demais pares recentementes lançados pela sua confiança em combinar um grande volume de informações não só sobre o herói mas também sobre seu rival do momento, o Coringa (Heath Ledger, falecido em janeiro aos 29 anos).
E ainda mais, desenvolve com elegância, no roteiro, o quadro de dependência mútua entre ambos, delineando a relação conflitante do perfil de cada um deles. Um se resignando em ter de administrar seu senso de justiça com uma sede de vingança para limpar Gothan City da corja de bandidos e corruptos; e o outro, seguindo sem limite e de forma suicida sua própria lógica, a do caos e da anarquia, para mostrar a hipocrisia das leis e do ordem. Aos leitores do HQ do Cavaleiro Negro não há nada de novo. Tudo já estava lá.
No filme, tanto Christian Bale (já excelente no longa-metragem predecessor), quanto Ledger sustetam com maestria o peso destas duas personalidades perturbadas. Ledger se destaca. Ele vem com uma maquiagem medonha, com cortes suturados nos quantos dos lábios e expressões que deixam seu interlocutor (e nós espectadores) sem chão por não saber se há um limite na insanidade do rapaz. A sensação é a de que este Coringa é mesmo perigoso. Ledger confirma o que já se cantava há alguns meses a respeito de sua performance, a de que merece um Oscar em 2009.
Como benefício para o filme, há ainda o elemento ‘simpatia’ com o herói. Batman nasceu pelas mãos de Bob Kane há 69 anos e, hoje, espectador de qualquer idade, mesmo os não-fãs, guardam la no fundo (ou já guardaram noutra idade) algum tipo de ligação afetiva com o personagem.
Na nova história Gothan também tem um “Cavaleiro Branco”, é o promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart), figura incorruptível, assim como o tenente Gordon (Gary Oldman), que de forma legal vem limpando a cidade. Mas um grupo em particular comandado pelo mafioso Maroni (Eric Roberts) não consegue ser incriminado por Dent graças ao seu esperto contador Lau (Chin Han). O único atrapalho nos crimes de Maroni é o Homem-Morcego e é ao Coringa a quem eles recorrem para dar cabo do herói.
Ainda como novidade, a substituição da muito mais expressiva atriz Maggie Gyllenhaal no lugar da limitada Katie Homes que atuou em 2005 como a advogada Rachel – eterna paixão de Bruce.
“O Cavaleiro…” é um filme extenso mas, como já disse, a congregação de bons profissionais aqui envolvidos deixam o filme em seus 152 minutos tão redondos que não provocam cansaço. Ansiedade sim, mas este é o objetivo afinal. Desde a montagem de Lee Smiht, que é orgânica com o todo do roteiro como só o bom cinema pode produzir – atenção na sequência em que uma juíza vai abrir um envelope em seu carro -, quanto na direção de arte (desenhos da bat-moto e visual de Gothan empolgam), como também a edição de som (abrir os ouvidos para o capotamente de um caminhão). Se ainda não entenderam, “O Cavaleiro…” é um filme para ser visto numa sala de cinema, sem a menor culpa de sentir prazer com o que de melhor Hollywood ainda tem a oferecer.
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