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Críticas

O Escafandro e A Borboleta

O olho fala

Por Luiz Joaquim | 11.07.2008 (sexta-feira)

Julian Schnabel, diretor de “Basquiat” e “Antes do Anoitecer”, abre bem seu novo filme “O Escafandro e A Borboleta” (Le Scafandre et La Papillon, França, 2007) estreando hoje no Cinema da Fundação. A perspectiva da câmera é a mesma de Jean-Do (o ótimo Mathieu Amalric, de “Reis e Rainhas”). A noção plástica de ofoscumento, desfoco e incompreenssão do que se passa ao seu redor, ou de quem são as pessoas ali, também é a mesma do espectador. E só por essa simples, mas eficaz, estratégia visual, o filme já segura o interesse do público.

O Jean-Do do filme é Jean-Dominique Bauby, editor da revista Elle francesa que em 1995 sofreu um ataque cardíaco que paralizou seu corpo, deixando numa condição chamada de ‘síndrome locked-in’, ou seja, em que não pode controlar nenhum músculo do corpo, exceto pela capacidade de piscar o olho. Isso significa que Jean-Do tinha a atividade cerebral, a consciência, em pleno funcionamente, o que só aumenta o horro de viver numa prisão cujo cárcere é seu próprio corpo.

Diante de tal desenho dramático, vem imediatamente à memória um clássico mundial do cinema, chamado “Johnny Vai À Guerra”, lançado em 1971 pelo escritor Dalton Trumbo (e colocado no mercado brasileiro de home-video pela pernambucana Aurora DVD em 2006). Neste, que é provalvemente o filme potente filme anti-guerra já feito, fala de um soldado que perdeu os braços, as pernas, seu rosto, a audição, a visão e a capacidade de falar. Sua única maneira de interagir com o mundo é através do tato. Significa que sua mente consciente só tem noção do que acontece ao seu redor a partir da sensação de frio, calor ou quando alguém lhe toca a pele.

No caso de “O Escafandro…”, Schnabel coloca a nós, espectadores, entre o mundo de Jean-Do e o que lhe cerca. E o perfil que traça do protagonista é o de um otimista e bem-humorado ser-humano. Que se rebela contra a depressão. A estratégia é boa. Evita a pieguice e agrada o público enquanto conta a solitáriia jornada de Jean-Do para aprender e se comunicar com o piscar de um olho, até chegar a conclusão do livro que escreve auxiliado por uma ajudante. Livro que inspirou este filme e vem agradando o mundo inteiro, inclusive o festival de Cannes 2007, que lhe concedeu o Grande Prêmio Técnico e a Palma de direção para Schnabel, além da Academia do Oscar, que lhe deu quatro indicões nobres (fotografia, direção, montagem, roteiro) na última edição.

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