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Críticas

O Signo da Cidade

Escrito nas estrelas

Por Luiz Joaquim | 24.07.2008 (quinta-feira)

Há uma tendência natural da crítica em fazer relações cinematograficamente históricas ao analisar filmes. Quero dizer, é como uma espécie de vício de linguagem, pelo qual o analista fica criando analogias, relações, comparações com outros filmes de temática próxima à obra em questão. Nesse vício, alguns especialistas exageram e, por vezes, esquecem de pensar o filme em si. “O Signo da Cidade” (São Paulo, 2007) é o longa-metragem de estréia do ator Carlos Alberto Riccelli. Entra em cartaz amanhã no Cine Rosa e Silva e, como qualquer filme paulistano que toma São Paulo como um personagem importante no enredo, poderia ser comparado a uma diversidade de outros trabalhos feitos por ali.

Há ainda a evolução (ou involução) dramática de diversos personagens aleatórios, conectados apenas pela metrópole, que também remete a um sem número de outros autores de filmes. Mas, para avaliar o filme de Riccelli, o foco de luz talvez deva ser apontado em outra direção.

Está direção é a do envolvimento entre as pessoas e o ambiente onde vivem. E se o filme reflete as inquietações de seu realizador, então o “O Signo da Cidade” indica um Riccelli e sua esposa Bruna Lombardi (produzindo e atuando no filme) como dois observadores indignados com o mundo que os cerca e com o que este mundo fez as (das) pessoas.

Bruna, sempre linda mas também com alguns momentos de overacting aqui, vive a astróloga Têca que, num programa noturno de rádio, escuta as amarguras dos ouvintes. Ao seu redor, sua produtora Mônica (Graziella Moretto) não acredita em relacionamentos desinteressados, e o técnico da rádio é um garoto que vive sua homossexualidade na rua enquanto em casa, se esforça para secretamente ser comportado com a mãe católica.

O marceneiro Gil (Malvino Salvador, aqui num trabalho bem melhor defendido que o do lutador de boxe da novela “Sete Pecados”) é o novo vizinho de Têca. Ele também vive um momento de fragilidade sentimental o que reforça sua desorientação quanto ao próprio futuro.

No mosaico dos personagens desenhados, há ainda Luís (Thiago Pinheiro) um cliente deprimido de Têca – que põe cartas em casa -, e a leva a uma viciada também desiludida. Nas ruas da cidade, ela conhece Gabriel (Kim Riccelli, filho do casal que produz o longa) que recentemente perdeu a mãe, não menos infeliz com a própria vida.

O que parece interligar todos eles é a solidariedade. E a direção de Riccelli parece deixar todos seus atores à vontade, querendo revelar algo mais nobre que costuma ficar encoberto na epiderme nos seres urbanos. Aí está um mérito mas, apesar do bom ritmo imposto pela montagem acertada de Márcio Hashimoto Soares, parece haver um recorte de tempo insuficiente para alguns personagens, não permitindo que eles respirem bem no cenário de Riccelli. Aí está uma fragilidade. O filme como um todo, entretanto, não sofre tanto com essas fragilidades. Assim como também não sofre o espectador.

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