A Banda
Dois mundos, uma melodia
Por Luiz Joaquim | 05.09.2008 (sexta-feira)
Algum dia alguém deve olhar para trás e estudar qual o efeito causador da recente e massiva produção no Velho Continente de filmes feito por jovens realizadores que jogam seu facho de luz para questões pessoais a partir das diferenças sócio-culturais entres as diferentes regiões dali. Seja para ilustrar histórias amorosas ou não, o fato é que “A Banda” (Bikur Ha-Tizmoret, Israel/França, 2007), de Eran Kolirin, entrando em cartaz hoje no Cinema da Fundação, é um exemplo disso ao arregaçar os efeitos que cada um integrante de uma banda militar egípcia sofre ao ir parar por engano num subúrbio em Israel.
Ao mesmo tempo em que “A Banda” promove esse confronto cultural, acaba por nos oferecer as contradições dos dois povos. Melhor, promove também com humor o que há de próximo entre eles através do questões universalmente humana e sentimentais. Há um mês, o mesmo Cinema da Fundação exibiu “Do Outro Lado”, de Fatih Akin, investigando o universo turco e o germânico, com seqüências nos dois países e a história caminhando a partir da transição dos personagens entre os dois mundos, igualmente impussionados por sentimentos pessoais/amorosos.
Em “A Banda”, temos algo de intrigante logo de partida, quando o ônibus vai embora e deixa oito homens perdidos, arrastando instrumentos musicais, em uniformes supostamente desenhados para impor respeito. O Capitão Zacarias (Sasson Gabai), com sua altivez e autoridade, parece ser o único preocupado em manter intácta a imagem da Alexandria, cidade que representam. Zacarias soa anacrônico com toda sua polidez. E seu anacronismo apenas ganha realce diante da decadência e aridez do cenário suburbano israelense. Ao mesmo tempo, ao encontrar ajuda em Dina (Ronit Elkabetz), a solitária dona de um pequeno restaurante, é a polidez de Zacarias que irá conquistá-la.
O contraponto do relacionamento fica com um jovem trompetista do grupo. Ele, Haled (Saleh Bakri) é uma alma livre (assim como Dina), que ama Chet Baker e não hesita em utilizar seu talento e bom gosto musical para assediar as mulheres. Haled com seu charme e humor, mostra o poder de “My Funny Valentine” e apresenta o lado leve dos alexandrinos, além do lado respeitador via Zacarias.
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