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Festivais

32a Mostra de SP (2008) – dia 19.out.

O novo (e bom) cinema italiano

Por Luiz Joaquim | 20.10.2008 (segunda-feira)

SÃO PAULO (SP) – São poucos os cineastes que se dão ao luxo de lançar dois filmes novos num mesmo festival. São menos ainda aqueles que podem lançar dois filmes bons no mesmo festival. Aqui na 32º Mostra de São Paulo, o feitio não é de nenhum estrangeiro, mas do carioquíssimo Domingos Oliveira. Depois de ver “Juventude”, sobre o reencontro de três amigos que relembram os primeiros anos e os antigos e recentes amores, os paulistas tiveram a chance de, na tarde de anteontem, ver “Todo Mundo tem Problemas Sexuais”.

Dramaturgo por excelência, Oliveira acabou por projetar-se no cinema, e nos trabalhos mais recentes não faz questão de esconder na tela essa sua filiação com os palcos. Domingos não pôde vir apresentar o filme – o avião não decolou por conta de um temporal no Rio – mas mandou e-mail pela produtora Renata Paschoal. “Já pensei em morar em São Paulo. O teatro aí é melhor e as pessoas são mais sérias”, brincava. “Este filme não choca ninguém. Ninguém mais se choca. O mundo choca. Mas é um filme dotado de extrema sinceridade e entrega, isso sim é algo raro e que ainda perturba”, concluia na carta.

Para quem acha que já viu tudo em termos de adequação de peça teatal para a cinema, pode surpreender-se com “Todo Mundo tem…”. O filme é filho direto das montagens da peça homônima que Domingos escreveu e dirigiu em 2007, a partir de histórias reais contadas em cartas que eram enviadas para a coluna “Vida Íntima”, do piscanalista Alberto Gondim, publicada dominicalmente num jornal carioca.

No filme, Domingos mostra imagens feitas em cenário real, com o ritmo de edição e a estética de cinema, e as alterna com imagens paradas e captadas em pleno palco, quando a peça foi encenada ano passado. O resultado dá uma dinânima estranha, mas interessante até para ver as marcas de interpretação e postura dos atores nos dois veículos.

Dividido em cinco histórias pra lá de divertidas, o filme fala da impotência masculina, da perversão, das fantasias, da sedução e a última mistura fetiche com homossexualismo. Exceto pela história de um casal (Priscilla Rozenbaum e Ricardo Kosovski) que se conhece pela internet e marca um encontro literalmente às escuras, o ator Pedro Cardoso domina as outras esquetes.

Cardoso, que na apresentação do filme no Festival do Rio, há três semanas, levantou polêmica na defesa da não utilização do nú gratuito na TV e no cinema, encontrou aqui no texto de Oliveira uma terra fértil para plantar seu talento de humorista (“o melhor humorista do Brasil”, segundo vaticinava Oliveira na carta). De fato, mesmo com uma marca bem definida de interpratação (e talvez por isso mesmo), Cardoso mostra que tem um senso de timing perfeito para o humor, tornando sua participação o ponto alto do filme em meio ao texto extraordinários de Domingos.

ITÁLIA
Comentado com ardor pela imprensa e público por aqui, “Gomorra”, de Matteo Garrone, provovou correria no final de semana. Vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes 2008, o filme abre uma janela vigorosa para um cinema italiano que havíamos esquecidos de ver. Como no filme de Oliveira, temos cinco histórias, mas aqui correndo paralelas e tecidas entre si a respeito da estrutura da máfia Comorra, que atua brutal e bilionariamente em Nápoles e Caserta.

Em três das história, o marcante é a aparente irreversibilidade dos habitantes daquelas províncias em atuar no sistema criminoso. Seja pelo costureiro da alta moda, seja pelo assessor da empresa de coleta de lixo radioativo, seja pelo senhor que presta conta às famílias protegidas. Nas outras duas história, o traçado é o da inserção no crime, um pelo menino Totó, atraído pela facilidade do crime, e a outra pelos amigos adolescentes Roberto e Dante, movidos à ódio e fascinação por armas e violência.

“Gomorra” é uma devastadora crônica sobre a pobreza na itália contemporânea. Filme pode iniciar tematicamente o cinema italiano de hoje o que “Cidade de Deus” fez pelo brasileiro há seis anos, mas aqui sem os artifícios da fotografia doce e a mirabolância de edição no filme de Meirelles. Os filmes de gangster americano de hoje também parecem ter o que aprender com Matteo. “Gomorra” já foi comprado pelo mercado brasileiro e tem circulação segura pelo circuito comercial.

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