3ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do
Revendo a sociedade pelo cinema
Por Luiz Joaquim | 20.10.2008 (segunda-feira)
É bom perceber que em sua terceira edição, a Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, que inicia hoje e vai até domingo no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (e com pauta em outras 11 capitais), começa a ganhar maturidade curatorial. Não que as edições anteriores apresentassem obras ruins, mas a maioria era um tanto segmentada ao cerne do tema do evento, não dando tanto espaço, em sua objetividade, para a reflexão afiliada à emoção típica que bons filmes de ficção oferecem.
Pela primeira vez, a escolha dos filmes contemporâneos foram por convocatória, além de outros pelo tradicional convite da curadoria, como acontecia exclusivamente no passado. A iniciativa só valoriza a Mostra, que é realizada pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, com produção agora da Cinemateca Brasileira e do Sesc São Paulo, com patrocínio da Petrobrás e apoios do Ministério das Relações Exteriores e da TV Brasil. Essa última, inclusive, vai conceder um prêmio aquisição aos títulos preferidos do público.
Ao todo foram inscritos 182 trabalhos de 11 países e de 12 estados brasileiros. Na seleção deste ano, percebe-se claramente uma coesão conceitual por trás da programação que oferece uma retrospectiva histórica com destaque social sobre crianças e adolescentes. Estão reunidas obras dos últimos 60 anos, cuja fama extrapolaram o mote do enredo, tornando-se clássicos mundiais por razões cinematográficas. Um deles é “Os Esquecidos” (1950), de Luís Buñel, que terá exibição na quarta-feira, às 14h30, com orientação para pessoas com deficiência visual.
Ainda dentro da retrospectiva, “Couro de Gato” (1961), no qual Joaquim Pedro de Andrade mostra garotos favelados roubando gatos para fazer tamborim. Um outro clássico moderno programado é “Palace II”, de Fernando Meirelles, curta que deu origem ao longa “Cidade de Deus”.
Também na quarta-feira, às 18h30 , Toni Venturi e Pablo Georggieff exibem seu “Dia de Festa”, que registrou sete ocupações lideradas pelo MSCT em 2004. Outro nacional (pernambucano, mais precisamente) de destaque é “Deserto Feliz”, de Paulo Caldas (ainda inédito em circuito comercial, talvez em novembro nos cinemas), que acompanha uma adolescente que foge de Petrolina e termina como personagem do turismo sexual no Recife.
ALMA FEMININA
Para abrir a Mostra hoje, às 19h, a curadoria apresenta o curta “Tibira é Gay”, de Emílio Gallo, sobre o homossexualismo entre índios na floresta amazônica. O filme antecede o imperdível “O Aborto dos Outros”. Este documentário, de Carla Gallo, já foi considerado por muitos como o melhor de 2008 e conceituado pela imprensa como “uma ultra-sonografia da alma feminina”. Leia a crítica ao lado.
O respeitado documentarista Kiko Goifmann também aparece com “Amapô” sobre a violência contra travestis enquanto o veterano Eduardo Escorel apresenta seu “J”, expondo a fragilidade da proteção dos direitos humanos a partir da denúncia de um líder comunitário. Sandra Kogut fala de uma comunidade em Niterói e suas transformações a partir da chegada de um personagem, representando a lei em “Cavalão”.
Entre os estrangeiros, destaque para “Delinqüente” (Gamin, 1978), de Ciro Durán, que mostra crianças nas ruas de Bogotá para roubar, mendigar e se prostituir. A programação completa pode ser vista no site (www.cinedireitoshumanos.com.br) assim como detalhes técnicos e sinopses de todos os filmes.
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