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Festivais

41° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (abe

Daniel Bandeira faz suas pontuações sobre o Festival de Brasília

Por Luiz Joaquim | 19.11.2008 (quarta-feira)

Tradicional palco de embates cinematográficos, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro inicia sua 41ª edição já enfrentando fortes críticas antecipadas. O motivo é o privilégio dado à linguagem documental pela curadoria de longas-metragens deste ano, que vem gerando polêmica e desconfiança entre a mídia especializada desde o momento de sua divulgação.

Dos seis filmes concorrentes, três se enquadram numa noção mais clássica do documentário (“Ñande Guarani”, de André Luiz da Cunha, “À Margem do Lixo”, de Evaldo Mocarzel e “O Milagre de Santa Luzia” de Sérgio Roizenblit) enquanto outros três fazem a utilização de uma narrativa limítrofe entre o documentário e ficção (“Filmefobia” de Kiko Goifman, “Siri-Ará”, de Rosemberg Cariry e “Tudo Isto Me Parece Um Sonho”, de Geraldo Sarno).

Há quem acredite que a ênfase nos documentários desequilibra a representatividade do cinema brasileiro, do qual o Festival de Brasília é tido como um marco referencial. Há ainda quem aponte uma queda no prestígio de Brasília, que por adotar o critério de ineditismo em sua seleção, acaba perdendo concorrentes de peso para outros festivais importantes do Brasil.

O fato é que este estado de espírito já é recorrente ao Festival de Brasília desde sua criação, e ele promete alimentar a semana com questionamentos pertinentes sobre linguagens, políticas, e o papel do próprio Festival diante da fase de reconhecimento e mudanças pela qual a produção brasileira ainda está passando.

Avanços e resistências
As quarenta edições do Festival de Brasília certamente lhe conferiram uma aura potente no circuito dos festivais brasileiros, mas não o isolou do impacto das mudanças na forma de produção de cinema no Brasil.

Esta edição do festival marca a inclusão tardia do vídeos digitais na mostra competitiva, após anos de defasagem em relação a diversos festivais nacionais. A estréia do digital ainda acontece de forma tímida, dividindo o horário “alternativo” das 14h30 com as produções em 16mm, a cada ano mais escassas.

Se por um lado o festival caminha a passos lentos para a adaptação às novas mídias, por outro inova no quesito acessibilidade. A partir desta edição, todos os filmes, diante da autorização do realizador, serão exibidos com legendas eletrônicas em português, recurso destinado a portadores de deficiência auditiva. A medida incrementa a disponibilização do recurso de áudio-descrição, implementada desde o ano passado para a inclusão de portadores de deficiência visual.

A iniciativa é pioneira no circuito dos festivais brasileiros, entretanto sua execução ainda necessita de ajustes. Os muitos erros de sincronia da legendagem eletrônica da sessão especial de “São Bernardo” atrapalharam a projeção para surdos e ouvintes, mas aponta uma disposição saudável do Festival em pagar pela transição de novos paradigmas de exibição no qual todos estamos nos adaptando, apesar do peso da tradição que lhe acompanhará por muto tempo.

São Bernardo

Após uma cerimônia discreta, a 41ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro teve início com a exibição da cópia restaurada de “São Bernardo”, obra seminal de Leon Hirszman resgatada em alta definição pela Videofilmes.

Em discurso, a filha do cineasta, Maria Hirszman, falou sobre a importância da obra e de como a interdição do filme pela censura militar impediu em dez anos a realização de um novo projeto. Emocionada, ainda apontou a atualidade e o vigor da obra, apesar das aparentes limitações da produção.

Limitações, aliás, que mal se notam. Baseado no romance de Graciliano Ramos, o filme conta com vigor e economia a história de Paulo Honório (Othon Bastos), agiota e caixeiro-viajante que assume a propriedade da fazenda “São Bernardo” como meio de concretizar seus sonhos de riqueza e controle diante da vida. Em seu objetivo, extorque, maltrata, mata e humilha sem vacilar. Mas é na chegada da professora Madalena (Isabel Ribeiro), com quem se casa, que Paulo Honório será questionado quanto à validade da suas ações e o sentido de suas finalidades.

O impacto da obra de Hirszman foi potencializado pela restauração impecável promovida pela Videofilmes, responsável pelo resgate das principais obras do cineasta através da tecnologia digital. Nesses termos, a exibição de “São Bernardo” é um sinal do tanto do zelo do Festival de Brasília com o passado do cinema brasileiro quanto de seu interesse com os questionamentos sobre seu futuro.

Com a tendência ao questionamento da seleção de Brasília, tudo indica que essa semana os dois tempos do cinema irão se confrontar abertamente ao longo do festival – e espera-se que atinjam um consenso saudável, onde pelo menos um não inviabilize o outro.

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