Vicky, Cristina, Barcelona
É impressionante a capacidade de “Vicky Cristina Barcelona” (Esp./EUA, 2008), nova pérola de Woody Allen – desta vez rodado na Espanha – introduzir o espectador quase que imediatamente num universo onde fica claro que a beleza e a paixão são a moeda forte que faz a humanidade sair do lugar. Mas que isso, está lá que é o Belo (com ‘B’ maísculo) que impõem-se, […]
Por Luiz Joaquim | 14.11.2008 (sexta-feira)
É impressionante a capacidade de “Vicky Cristina Barcelona” (Esp./EUA, 2008), nova pérola de Woody Allen – desta vez rodado na Espanha – introduzir o espectador quase que imediatamente num universo onde fica claro que a beleza e a paixão são a moeda forte que faz a humanidade sair do lugar. Mas que isso, está lá que é o Belo (com ‘B’ maísculo) que impõem-se, não só no campo dos desejos fisiológicos, mas também nas inquietações da alma.
E Allen utiliza-se de ferramentas em toda sua potencialidade para alcançar esse traçado, sendo que as três principais ferramentas atendem pelo nome de Javier Bardem (Juan Antonio), Scarlett Johansonn (Cristina) e Penélope Cruz (Maria Elena). Alguém pode dizer que, com um trio desse, fica fácil falar de beleza. Há ainda a ótima e linda Rebecca Hall (Vicky), peça fundamental para o roteiro andar, como é a quarta roda de um carro.
Outra ferramenta é a própria Espanha, em particular Barcelona e Oviedo, com tudo de saboroso em termos de arte (incluindo aí música, arquitetura, artes plásticas, e outras), aqui a serviço do homem.
A fama do sangue quente nas relações afetuosas entre os espanhóis também serve a Allen. Aos olhos de um estrangeiro, principalmente um nova-iorquino como ele, as brigas febris de casais flamejantes e de espíritos livre são motivo de piada exatamente pelo exagero. Com Bardem e Cruz vivendo (muito bem) um ex-casal assim, Allen capricha na mise-en-scéne, gerando nosso riso espontâneo.
Na verdade, Allen elege Vicky e Cristina como as representante, no filme, de seu próprio olho, que vê a cultura européia como algo que busca a afirmação da vida acima de tudo.
Esse conceito está muito bem personificado no artista plástico Juan Antônio, que vai tentar seduzir as duas turistas gringas em Barcelona. Allen aproveita as duas amigas para, como em “Melinda e Melinda” (2004), criar duas mulheres oposta nas prioridades quando o assunto é a vida a dois.
Se a metódica Vicky está noiva de um jovem e chato executivo americano, e se diz feliz com isso, Cristina é a atriz de um curta-metragem que anseia por um homem que desarrume seu cabelo e sua cabeça.
Com a entrada de Bardem e Cruz na história, Allen apimenta ainda mais as certezas das duas, e o espectador só tem a agradecer e questionar suas certezas também.
0 Comentários