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Críticas

Caos Calmo

A praça da filha

Por Luiz Joaquim | 19.12.2008 (sexta-feira)

É pouco o espaço para falar dos desígnios nobres de “Caos Calmo” (Caos Calmo, Itá., 2008) que o Cine Rosa e Silva oferece como presente de natal em sua programação a partir de hoje. Presente mesmo, pois se um dos benefícios do cinema é proporcionar reflexão a partir da expressão do belo, o natal está garantido com esta belíssima fábula sobre reaprender a olhar a vida.

À princípio seria este o tema de “Caos Calmo”, mas seu roteiro escrito a três mãos – Nani Moretti, Laura Paolucci, Francesco Piccolo – a partir do livro de Sandro Verosini ganha tantos contornos de limitações e superações humanas que fica difícil enquadrá-lo ou reduzí-lo.

Uma imediata associação a ser feita é com “O Quarto do Filho”. Filme que Moretti escreveu, dirigiu e atuou em 2001 conquistando o mundo inteiro com o processo de superação que passa um psicanalista e sua família após a morte do filho adolescente.

Isso porque Moretti, aqui como Pietro, um alto executivo, também perde a esposa ao voltar da praia com o irmão após ter salvo a vida de duas outras mulheres que se afogavam. Quem presenciou a morte da mulher foi a filha do casal, Cláudia (Blu Di Martino), de dez anos.

Preocupado com Cláudia, certo dia, ao levá-la a escola, Pietro decide que vai ficar ali, na praça em frente, até a filha sair da escola. Repete isso diariamente, despachando suas obrigações dali mesmo, ou do carro, quando chove. A filha simplesmente tem de saber que ele está ao alcance. Com esta sua determinação louca, nesta demonstração de paternidade explícita, Pietro parece nos esfregar na cara que nenhuma determinação é realmente louca quando o assunto é o bem-estar do filho.

Logo o homem da praça fica conhecido e começa criar laços afetivos com o espaço e seus circulantes que ali passam diariamente. Ali também recebe outros colegas executivos que chegam para tratar de negócios e terminam por enveradar a conversa para questões pessoais, aparentemente embriagados pela tranquilidade que o lugar sugere.

A paz para Pietro, entretanto, não vem. Sem nem se dar conta que não conseguiu digerir a perda da esposa, ele acha que a pequena Cláudia pode sofrer do mesmo problema. Nesse sentido, “Caos Calmo” apresenta o caminho lento e sutil pelo qual Pietro aprende a reavaliar valores da e para a vida.

O que pode ser lido aqui como algo melodramático é apresentado na tela com elegância e precisão comovente. Há um equilíbrio na dosagem do que há de dor e de descobertas que a mão do diretor Antonio Luigi Grimaldi e a performance de Moretti não deixam pender nunca mais para um lado ou outro.

Ainda no elenco, as sempre ótimas Valeria Golino e Isabella Ferrari, além de Silvio Orlando e duas surpresas polonesas, Roman Polanski e Kasia Smutniak. Está última, uma aparição que assombra Pietro na praça lembrando que há coisas pelas quais vale sempre viver.

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