Quer saber como foi o cinema em 1988
Leia a retrospecitva feita por Fernando Spencer para o Diário de Pernambuco
Por Luiz Joaquim | 29.12.2008 (segunda-feira)
Cavucando alguns arquivos pessoais bem velhos, encontrei uma página do jornal Diário de Pernambuco (Recife), na qual o mestre e hoje aposentado crítico de cinema Fernando Spencer traça as caracterísiticas cinematográfica que marcaram 1988.
O material é interessante por diversos aspectos. Um deles é fazer perceber que há 20 anos apenas duas produções foram realizadas na cidade, “o resto espera apoio da Embrafilme”, explica o jornalista.
Exatamente por essa seara de realizações, Spencer dedica seu espaço (uma página inteira!) a avaliar a performance de bilheteira nas salas do Recife, comenta a abertura de novos cinemas por aqui, fala da necessidade da meia-entrada, da ausência de curtas metragens nas salas de projeção, etc.
Spencer lista seus “melhores do ano”, e apresenta os números dos campeões de bilheteria. Há ainda um incrível obituário, que relembra a morte de gente tanto como Ary Severo, passando por Cassavetes e indo até Gustav Froehlich, 85, ator de Metropolis, 1925.
Aproveitem
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Diário de Pernambuco, Caderno Viver, 28 de dezembro de 1988
Aconteceu em 1988
Um ano em que as estréias brilharam mais que nunca nas telas de todo o mundo
FERNANDO SPENCER
Entre os acontecimentos de maior destaque do ano está a inauguração de novos cinemas no Recife. Quando a tendência sempre foi fechá-los. Nas últimas décadas, o Recife viu desaparecer mais de trinta salas. Mas, de repente, mesmo sob os maus ventos da inflação de 1% ao dia, surgem em Boa Viagem, quatro salas lançadoras de primeira linha e um autocine.
A Art Films inaugurou o Art Boa Viagem e, no final do ano, o Grupo Severiano Ribeiro , ao lado do Shopping Center, brindou o público de Boa Viagem com os três Recife.
Enquanto isso, no centro, os cinemas registram uma queda de 30% de freqüência. Primeira medida: redução dos preços dos ingressos, porém só até o dia 22. Mas ainda não é por aí. A meia-entrada (crianças e estudantes) seria a providência mais correta. É preciso formar novas platéias, gente! O público dos baixinhos só está indo ao cinema para ver Xuxa e Os Trapalhões. Os filmes colorizados e o videocassete são graves ameaças às salas de cinema. As velhas produçoes em preto-e-branco estão voltando pintadas por computadores. O espectador vai crescer em roda do vídeo. O custo de um filme médio está em torno de 16 milhões de dólares e de um filme para a TV em cerca de 2 milhões. Para colorizar um filme antigo, porém, os gastos são apenas de 350 mil. Os números explicam porque as empresas estão investindo tanto no processo de colorização. Para as televisões, um grande negócio. “Casablanca” nunca teve audiência maior depois que Bogart e Ingrid Bergman apareceram coloridos. E vem mais por aí.
TENTAÇÃO
O Recife ainda não viu A Última Tentação de Cristo. No Rio continua em cartaz tranquilamente, sem bombas e outras formas reacionárias de imperdir sua exibição. Muita gente que não viu e não quer ver o filme de Scorsese. Mas que democracia é esta? O curta-metragem veio e de repente é boicotado pelos exibidores locais. E o Concine? A fiscalização funciona ou é só no papel?
BOAS PROMOÇÕES
A Fundação Joaquim Nabuco, através de seu Instituto de Assuntos Culturais, liderou as melhores promoções cinematográficas. Com o apoio de entidade culturais, o público teve a chance de ver o que era privilégio do Sul do País.
A Fundação do Cinema Brasileiro organizou e a Fundaj durante 15 dias exibiu para o público interessado cerca de 30 incluídos na comemoração dos 90 anos do cinema brasileiro. O Cineteatro Zé Carlos Borges da Fundaj abriu espaço para outras significativas mostras: Retrospectiva Ernst Lubitsch, Era do Ouro do Cinema Japonês, Cinema Alemão, de Sylvio Back, Filmes Franceses, de Curtas nordestinos e sessões especias com O Caldeirão, de Rosemberg Cariry, Imagens do Inconsciente, de Leon Hirzman e O Canto do Mar.
O Serviço de Divulgação e Relações Culturais dos Estados Unidos trouxe ao Recife os seis programas de Before Hollywood (1896-1925; o Bajado realizou a Retrospectiva Nelson Pereira dos Santos e promoveu a Mostra Ciclo do Recife. Na oportunidade, foi homenageado o pioneiro Ary Severo que recebeu a medalha 450 anos de Olinda. O Parque reabriu com uma sessão semanal de cinema. Não pode ficar só nisso. O prof Roberto Pereira, novo presidente da Fundação de Cultura do Recife deve olhar com carinho o Parque também como cinema. Inclusive porque deve ser uma fonte de renda para a FCCR cujo resultados financeiros poderam ser revertidos para o mesmo. Os cineastas estão de braços cruzados sem um Cruzado para realizar seus filmes.
Duas produções foram realizadas durante o ano de 88. O Último Bolero no Recife e Trajetória do Frevo. As demais aguardam recursos da Embrafilme.
O projeto Guararapes, com o apoio da Fundarpe realizou um bom curso de cinema e vídeo coordenado pelos cineastas Nelson Simas e Marcelo Perez. Agora é botar o barco para andar. Navegar é preciso.
FILMES & FILMES
No decorrer de 88 os lançamentos nas salas comerciais foram razoáveis. Além dos 10 melhores vale registrar outros também de importância: Atração Fatal , de Adrian Lyne, O País dos Tenentes, de João Batista de Andrade, Depois de Horas, Eternamente Pagu, de Normal Bengell, O Império do Sol, Um Grito de Liberdade, As Cores da Violência, Querem me Enlouquecer, O Siciliano, Ária, Dedé Mamata, Daumbailó, Diabo no Corpo, de Marco Belochio, Quero Ser Homem, Busca Frenética, Rebelião em Milagro e Uma Cilada para Roger Rabbit, atualmente em cartaz.
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CAMPEÕES DE BILHETERIA
Rambo III, com Silvester Stallone, foi visto no Recife por 94.940 espectadores, mas “Heroi Trapalhão”, em seis semanas bateu o musculoso herói fabricado por Hollywood.
O filme dos Trapalhões foi visto por 115.971 pessoas, Rambo II (nota do editor: aqui Spencer erra o número da seqüência do filme) ocupou seis semanas no Art Palácio, três no Art Boa Viagem e 4 no Trianon.
Xuxa Contra o Baixo Astral foi muito bem no Recife. Em cinco semanas no São Luiz atraiu 58.681 espectadores
Loucademia de Polícia 5 fez uma boa carreira em quatro semanas no Moderno 38.190. Dirty Dancing – Ritmo Louco em seis semanas foi visto por 55.820 pessoas e o nacional Banana Split, em duas semanas teve 22.055 pessoas.
Na verdade, ninguém bate Os Trapalhões, nesses últimos cinco anos não tiveram fracasso de bilheteria.
Recentemente, na primeira semana de O Casamento dos Trapalhões em 12 cinemas do Nordestejá faturou Cz$ 54.534.150,00 (107.071 espectadores¬). Só no Recife o novo filme dos Trapalhões em três cinemas (Art Palácio, Art Boa Viagem e Astor) foi visto por 19.894 pessoas.
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OS 10 MELHORES DE 88
1 – O Último Imperador, de Bernardo Bertolucci
2 –Olhos Negros, de Nikita Mikhailkov
3 – Adeus, Meninos, de Louis Malle
4 – Mishima, Uma Vida em Quatro, de Paul Scharader
5 – O Ilusionista, de Joe Stelling
6 – Nascido para Matar, de Stanley Kubrick
7 – Esperança e Glória, de John Boorman
8 – Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, de Rosemberg Cariry
9 – A Dama do Cine Shangai, de Guilherme de Almeida Prado
10 – Feliz Ano Velho, de Roberto Gervitz
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DESAPARECERAM EM 1988
Em janeiro, aos 87 anos, morre a atriz Alice Terry que ficou famosa no papel de enfermeira heróica em Os 4 Cavaleiros do Apocalipse, de Rex Ingram com Rodolfo Valentino ** Charles (Chuck) Couch, 78, criativo diretor de cartuns e filmes de animação da Disney nos anos 20/30 ** Trevor Howard, 71, ator inglês com 47 anos dedicados ao cinema. Principais filmes: O Terceiro Homem, A Clandestina, A Chave e Raízes do Céu ** Jota Soares, 81, pioneiro do cinema pernambucano, ator e diretor aos 20 anos de A Filha do Advogado, notável figura do Ciclo do Recife.
FEVEREIRO
** Fevereiro assiste ao desaparecimento de Gustav Froehlich, 85, ator de Metropolis, 1925, de Fritz Lang. Trabalhou em mais de 150 filmes ** Jean Mistry, 83, crítico de cinema, um dos mais importantes teóricos da Sétima Arte ** William Cagney, 81, o caçula dos cinco irmãos de James Cagney.
MARÇO
Morrem em março Collen Moore, 85, veterana do cinema mudo. Chegou a aparecer em seis filmes sonoros antes de se retirar da tela. ** Allan Cuthbertson, 67, ator britânico especializado em tipos característicos. Trabalhou em mais de 40 filmes. ** Steno, considerado o pai da comédia italiana, junto com Mario Monicelli.
ABRIL
Morrem em abril I.A. L. Diamond, 67, roteirista de Se Meu Apartamento Falasse ** Paolo Steppa, 81, ator de grande filmes, entre eles O Leopardo, de Visconti, e Milagre em Milão, de Vitorio De Sica ** Woodland Hills, 90, que contracenou em cerca de 10 filmes com Tom Mix ** Marten Schaper, 44, assistente de fotografia de Wim Wenders ** John Clements, 77, veterano roteirista de Cecil B DeMille ** Irene Rogers, mulher de Will Rogers, 96, que trabalhou em inúmero faroestes ** Eva Novak, 90, atriz do cinema mudo.
JUNHO
O ator Martin Wyldeck, 74 anos, ** Christopher Gore, 45, roteirista de Fama ** Raj Kapoor, 64, ator produtor e diretor indiano ** Andrew Duggan, 74 anos de cinema.
JULHO
Morre Joshua Logan, 79, ator de cinema e teatro. No cinema fez Aventureiros do Ouro, Nunca fui Santa, Sayonara, Camelot e Pic Nic.
AGOSTO
Morrem Milton Krasner, de 84 anos, Oscar de fotografia por A Fonte do Desejo. Fez 170 filmes de 51 de cinema. ** Dustan Maciel, 80, um dos últimos pioneiros do cinema pernambucano, participou do Ciclo do Recife, com Dança Amor e Ventura, Destino das Rosas, entre outros. ** Aldo Tonti, também diretor de fotografia italiano em Roma Cidade Aberta, Ossessione, Guerra e Paz, Barrabas entre outros.
SETEMBRO
Desapareceram em setembro Alan Napier, 85 anos, que participou do seriado Batman e fez mais de 40 papeis ** Joaquim Pedro de Andrade, 56, realizador de Garrincha Alegria do Povo, Macunaíma, O Homem do Pau Brasil, ** Ralph Meeker, 67, ator de Um Rua Chamado Desejo, e Glória Feita de Sangue ** Greta Niseen, 82, atriz sueca do cinema mudo e falado ** Gilbert Gil, ator francês de Pepe-le Moloko, de Julian Duvivier ** Gert Frobe, 75, ator alemão, vilão de Goldfinger ** Wilfred E. Jackson, 82, animador e diretor dos estúdios de Walt Disney durante 33 anos. – Anne Ramsey, intérprete da horrível mãe de Danny De Vito em Joga a Mamãe do Trêm ** Roy Kinner, quando rodava A Volta dos Três Mosqueteiros.
NOVEMBRO
Morre em Milão o veterano ator John Carradine, 82, pai de David, Robert, Keith e Bruce Carradine.
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