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Festivais

12º Tiradentes – 2009 (terça-feira)

Crises e superações pautam filmes em Tiradentes

Por Luiz Joaquim | 29.01.2009 (quinta-feira)

TIRADENTES (MG) – Em construção de programa de curtasmetragens que parece insuperável no quesito coesão temática, a 12ª Mostra de Cinema de Tiradentes trouxe na noite de terça-feira um bloco pautado por um conjunto de personagens em crise, em processo (ou não) de superação.

Dos cinco filmes no tal bloco, havia a iluminação de duas das mais celebradas obras pernambucanas: “SuperBarroco”, da premiada em Brasília, Renata Pinheira, e “No. 27”, de Marcelo Lordello. Talvez o filme de Renata seja o que mais escorregue para fora desse conceito. Isso porque, em suas sobre-exposições de imagens em seu protagonista a inteção , conforme afirmou a própria diretora em debate na manhã de ontem, é menos rever seu passado e mais fazê-lo reviver no presente, junto com a platéia, novas sensações atuais.

Já para Lordello, cuja paisagem de “No. 27” reside essencialmente no rosto do adolescente protagonista Caio, essa opção o agrada como proposta estética para traduzir o ensimesmamento do personagem no seu próprio mundo, mas que dentro de uma instituição de poderes perversos – como pode ser um colégio – é obrigado e interagir, e sofrer, nela. “E esse mundo externo pode ser percebido pelo que está fora do rosto de Caio no enquadramento do filme”, ressaltou Marcello.

Crise interna também traduz bem o que sofre o protagonista de “O Dia em Que Não Matei Bertrand”, de L. C. Oliveira Jr.e Ives Rosenfeld. Protagonistas às voltas com um ódio nutrido pelo chefe no emprego kafkaniano. Enquanto “Osório”, de Heloísa Passos e Tina Hardy, apresenta a inquietação de uma jovem em seu quarto na madrugada curitibana, tendo a Praça General Osório e seus transeuntes como ilustração para esse desconforto, o cearense “Passos no Silêncio”, de Guto Parente incursiona, com raro sucesso, na tentativa de traduzir um poema de Goethe por uma professora de alemão.

Parente consegue com sucesso a difícil arte de unir cinema, literatura e artes plásticas numa mesma peça, utilizando som potente e imagens vertiginosamente envolventes (existem dois corajosos zooms com bela função narrativa).

Em outro bloco de curtas, exibido numa tela gigante montada em praça pública por aqui, um dos títulos ganhou destaque absoluto pela boa qualidade em todos os aspéctos técnicos, e particularmente, pela sensibilidade. Foi o filme paulista de Marcela Arantes, “Eu e Crododilos”, que esteve no festival americano Sundance e foi realizado para o “Cultura Inglesa Festival”, que já gerou outra pérola chamada “Alguma Coisa Assim”, do Esmir Filho, também ganhando o mundo por Cannes.

Um dos links das duas produções é o foco centrado no universo juvenil. “Eu e Crocodilos” observa um processo de passagem femino, em que a delicada Raquel deseja rapidamente as transfomações no seu corpo de menina para mulher, ao mesmo tempo em que convive com a brutalidade masculina que lhe cerca seja em casa ou nas paqueras das festinhas. A diretora Marcela, em encantadora fotografia, também coloca Raquel diante da natureza bruta, num pântano, onde a garota precisa ter a coragem de enfrentar a aspereza dos ‘crocodilos’, que lhe proporcionam os típicos medos na visão de inexperiente menina-mulher que é.

MONGA
O longametragem da noite, com o prosáico título de “A Fuga, A Raiva, A Dança, A Boca, A Calma, A Bunda, A Vida da Mulher Gorila”, de Felipe Bragança e Marina Meliande, também compunha o bloco “Aurora”, de estréia em longa. Realizado em oitos dias dentro de um Kombi levando uma equipe de oito pessoas rodando e filmando na estrada entre o Rio de Janeiro e Campos, mostra o trajeto de duas amigas que levam para o mundo o show, mais conhecido em Pernambuco como o da Monga, a mulher que vira macaco.

Bragança, em outros tempos mais ativo como crítico de cinema, já realizou alguns curtas de sucesso, como “Ismar”, e agora cocentra-se na produção de outros dois longas mais audaciosos. Em ‘A Fuga da Mulher Gorila’, como tem sido resumido aqui em Tiradentes, a própria paisagem interferia na relação das duas amigas, tanto em musicalidade como em forma de expressão fotográfica, resolvida pela iluminação improvisada pela fotógrafa Andréa Capella com a bateria da própria Kombi usada no filme e pela equipe.

Tanto “A Casa de Sandro” quanto “A Fuga da Mulher…” foram exibidos em projeção digital. E vale salientar que apesar de todas as qualidades técnicas e de estrutura da Mostra de Tiradentes, a projeção em digital ainda é sofrida, com imagens lavadas que têm desagradado cineastas e público.

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