Apenas os realmente interessados em cinema pararam às 22h da noite de domingo para acompanhar a 81ª cerimônia de premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que no Brasil foi transmitido apenas pela canal pago TNT. Em função da crescente perda de audiência no decorrer dos últimos anos, a organização da festa tratou de melhor administrar a apresentação do evento, comumente enfadonha.

Nesta edição – cujo grande vencedor foi o esperado “Quem Quer Ser Um Milionário?” (estréia amanhã no Brasil), levando oito estatuetas (filme, diretor, roteiro adaptado, fotografia, edição, canção, trilha sonora, mixagem de som) -, a cerimônia teve como mestre de cerimônia não um apresentador ou comediante, mas o ator australiano Hugh Jackman, que deu o recado de forma bem mais objetiva, elegante e competente que seus antecessores.

O próprio número musical de abertura, desenhando por Baz Luhrman (que dirigiu Jackman em “Austrália”), foi uma aula de concisão e bom humor pelo qual o ator passou à vontade.

Sobre a premiação, a próprio direcionamento de premiação para “Quem Quer Ser…” já revela um pouco do espírito ignorante, ou preconceituoso, da academia. Explica-se. “Quem Quer Ser…” é uma produção essencialmente britânica, mas completamente rodada e atuada por indianos. Todos os Oscar arrebatados por ele são de cunho técnico (exceto o do diretor, que é inglês). Isso significa que a tradicionalista Academia reconhece ali um filme muito bom (sic), mas não por mérito dos atores.

Furando esse raciocínio, a espanhola Penélope Cruz levou o prêmio de atriz coadjuvante pelo ótimo “Vicky Cristina Barcelona”, de Woody Allen. Não é uma performance extraordinária (como ela já alcançou em outros filmes e como foi a de seu compatriota, Javier Barden, ano passado em “Onde os Fracos Não Têm Vez”) mas, vale ressaltar: aqui Penélope fala em inglês, o que é suficiente para Hollywood prestar mais atenção nela que nas legendas.

Para prêmios, digamos, “humanos”, Sean Penn ficou com o título de melhor ator por “Milk: A Voz da Igualdade”. Apesar de seu comovente desempenho, é bem provável que esta cerimônia de 2009 seja lembrada por uma injustiça com a extraordinária performance de Mickey Rourke por “O Lutador”, que foi lembrado pelo próprio Penn ao receber a estatueta. “Rourke está de volta e é nosso irmão”, salientou Penn.

Como atriz, finalmente Kate Winslet foi reconhecida, por “O Leitor”, após sua sexta indicação. Já o prêmio de ator coadjuvante era a maior barbada desde março do ano passado, quando alguns executivos de Hollywood tiveram acesso ao primeiro corte de “Batman: O Cavaleiro das Trevas” e disseram: “A performance de Ledger (já falecido ali) é digna de um Oscar”.

Não houve surpresas com o prêmio para o fofo “Wall-E” como melhor animação de 2008, ao contrário do escolhido para melhor estrangeiro. Foi para o japonês “Departures”, ao contrário dos favoritos, o alemão “Valsa Com Bashir” ou o francês “Entre os Muros da Escola”. O campeão de indicações (13) “O Curioso Caso de Benjamim Button”, ficou com três deles: direção de arte, maquiagem e efeitos visuais.

Ainda sobre a cerimônia, tivemos piadas discretas mas eficazes. Uma chamando atenção para a comédia “Segurando as Pontas”, que a Sony incompreensivelmente não lançou nos cinemas brasileiros (só em DVD), no qual o ator James Franco faz um fumador de ervas. Na piada da cerimônia, Franco, chapado, assiste a si mesmo em cenas de “Milk”, na qual ele faz um homossexual beijando Sean Penn.

Noutra piada, o ator Ben Stiller surge para fazer um anúncio de uma premiação caracterizado com o novo visual de Joaquin Phoenix, barba enorme, óculos escuros, e comportamento debilóide. Um momento emocionante foi a entrada de Jerry Lewis (82 anos) para ser celebrado, mais como atuante pró-crianças carentes que como excelente comediante e ator que é.

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Premiados

Melhor Filme
Quem quer ser um Milionário?

Melhor Ator
Sean Penn ( Milk – A Voz da Igualdade )

Melhor Atriz
Kate Winslet ( O Leitor )

Melhor Ator Coadjuvante
Heath Ledger ( Batman – O Cavaleiro das Trevas )

Melhor Atriz Coadjuvante
Penelope Cruz (Vicky Cristina Barcelona)

Melhor Diretor
Quem Quer Ser Um Milionário?, Danny Boyle

Melhor Filme Estrangeiro
Departures

Melhor Filme de Animação
Wall-E

Melhor Roteiro Adaptado
Quem Quer Ser Um Milionário?

Melhor Roteiro Original
Milk – A Voz da Igualdade

Melhor fotografia
Quem quer ser um Milionário? (Anthony Dod Mantle)

Melhor edição
Quem quer ser um Milionário (Chris Dickens)

Melhor Figurino
A Duquesa (Michael O’Connor)

Melhor canção original
Jai Ho (Quem quer ser um Milionário?)

Melhor trilha sonora original
A. R. Rahman (Quem Quer Ser um Milionário?)

Melhor direção de arte
O Curioso Caso de Benjamin Button

Melhor Maquiagem
O Curioso Caso de Benjamin Button (Greg Cannom)

Melhores efeitos especiais
O Curioso Caso de Benjamin Button (Eric Barba, Steve Preeg, Burt Dalton e Craig Barron)

Melhor edição de som
Batman – O Cavaleiro das Trevas (Richard King)

Melhor mixagem de som
Quem quer Ser um Milionário? (Ian Tapp, Richard Pryke e Resul Pookutty)

Melhor curta-metragem
Spielzeugland (Toyland)

Melhor curta de animação
La Maison en Petits Cubes, de Kunio Kato

Melhor documentário
Man on Wire, de James Marsh e Simon Chinn

Melhor documentário em curta-metragem
Smile Pinki