Quem Quer Ser Um Milionário?
Emoções de plásticos, e com intervalo comercial
Por Luiz Joaquim | 27.02.2009 (sexta-feira)
A distribuidora Europa Filmes foi extremamente eficaz (e sortuda) em esperar o resultado do Oscar para lançar no Brasil “Quem Quer Ser Um Milionário?” (Slumdog Millionaire, Ing., 2008). Na verdade a estratégia conta também com duas semana com o que eles chamam de ‘pré-lançamento’, projetando o filme em sessões conta-gotas (veja roteiro), solitárias, uma vez por dia, no horário da noite. A idéia aqui é estimular a mais potente peça marqueteira do cinema – o boca-a-boca. É uma espécie de preparo para quando o filme entrar em cartaz – que acontece só na próxima sexta-feira.
Nem todos os filmes são beneficiados pelo boca-a-boca. “Quem Que Ser…” pode ser um deles uma vez que a obra agrega para si o fator ‘bonitinho’ e ‘divertidinho’. O diminutivo é mesmo para reforçar a estatura medíocre deste videoclipe reacionário e oco de verdade humana, que corre em velocidade alucinada tendo como pano de fundo a miséria da periferia indiana. Mas, é esse mesmo diminutivo, empregado nos comentários de um amigo a outro sobre o que viu na sala de cinema, que pode fazer do filme um sucesso de bilheteria.
Montado e trabalhado em seu som com ritmo juvenil – no que há de borbulhante na juventude – “Quem Que Ser…” tem uma proposta emotiva tão antiga quanto a de um velho programa de TV de 50 anos atrás. A propósito, em 1957, o Brasil deu ao mundo algo muito mais interessante partindo da mesma premissa do filme de Danny Boyle, este adaptado do romance de Vikas Swarup. O brasileiro era uma comédia romântica chamada “Absolutamente Certo”, dirigida por Anselmo Duarte a partir de uma idéia de Jorge Dória.
Contava a história de um pobre operário em São Paulo que precisava cuidar do pai doente, além de alimentar o sonho de casar com a vizinha. Até que o filho de seu chefe o coloca num programa de TV de respostas que pode torná-lo um milionário. O filme foi um sucesso de público, projetando Duarte e sua trupe.
A América também ofereceu algo semelhante há 15 anos com “Quiz Show” (impossível um título mais objetivo). O filme de Robert Redford, bem mais interessante que o de Boyle, concorreu a quatro Oscars em 1995. Perdeu para “Forrest Gump” (o “Benjamin Button” daquele ano).
Em “Quem Quer Ser Um Milionário?”, Boyle mostra a evolução do programa que dá título ao filme, mostrando o adolescente da favela de Mumbai, Jamal (Dev Patel), acertando todas as perguntas que o levam até o prêmio máximo de 20.000 rúpias.
Esse crescente de emoção televisiva é intercalado com a própria evolução sofrida e violenta da vida do rapaz, desde a primeira e segunda infância até o momento atual, quando pena nas mãos da polícia que o tortura, desconfiada da sabedoria do rapaz. Como molho, Boyle incrementa o desencontrado romance de Jamal com a bela Latika (Frida Pinto): amiga de infância na medincância que se torna uma prostituta de luxo.
Como um gel embalsamando esse conto de fadas pululante, temos a visão vertical do britânico Boyle olhando de cima a coisa feia chamada Mumbai, divertindo-se e nos divertindo com o que há de medonho na pobreza. Dando a seus personagens a dimensão de um rato que pode ser conduzido com eletrochoques pelos caminhos que convém a seu roteiro esquemático. É engraçadinho
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