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Críticas

Entre os Muros da Escola

É preciso acreditar no próximo

Por Luiz Joaquim | 13.03.2009 (sexta-feira)

O cineasta francês Laurent Cantet veio construindo sua carreira em crescente maturação de um discurso focado nos contrastes e conflitos da sociedade francesa e, agora, chega aos cinemas do Brasil seu mais novo trabalho “Entre os Muros da Escola” (Entre Les Murs, Fra., 2008), cuja decantação de idéias parece ter alcançado seu melhor desenvolvimento.

Se em “A Agenda” (2001), Cantet olhava com maior concentração para a psicologia interna do homem comum francês, a partir de um trauma financeiro, no “Em Direção ao Sul” (2005) ele observa a postura de superioridade de uma turista francesa em relação ao Haiti e a seus habitantes.

Agora, o cenário é uma escola suburbana, num bairro habitado por famílias de origens diversas – chineses, africanos, franceses – cuja comunidade na sala de aula serve como um micro-espelho que reflete a multi-etnicidade que habita hoje a França.

Em sua tradição histórica com a ética e moral, o pais tenta conviver com esses contrastes da melhor forma possível. Mas quando a questão passa por costumes e diferenças culturais, “a melhor forma” para uns pode não ser a “melhor forma” para o outros.

No roteiro criado por Cantet e Robin Campillo sobre o livro de François Bégaudeau para “Entre os Muros…”, o drama fica ainda mais delicado e tenso, considerando-se que os personagens aqui são não apenas estrangeiros, ou exilados voluntários, mas também são adolescentes entre 13 e 16 anos; o que significa uma combinação de adrenalina e hormônios fora do comum que por si só já enerva e, à olho nu no filme, nos faz ver desencorajar a nobreza dos professores em educar esses jovens.

O fio de esperança que Cantet nos oferece está na figura do protagonista, o professor François (o excelente Bégaudeau, assim como o resto do elenco juvenil de não-atores) que, do topo administrativo da aula-babel, sofre e pondera a partir dos trâmites legais da escola que pretensamente tentam abarcar e enquadrar os problemas dos alunos,

No fundo, o sistema resolve os problemas da escola, e não do aluno indesejado. É um pouco como funciona o mecanismo de conflitos étnicos, que afasta ao invés de ouvir. No filme, o julgamento do rebelde aluno africano é bem representativo, com a mãe do garoto não compreendendo o que a França lhe diz, e não se fazendo entender por ela. A única opção, diz Cantet, é acreditar na recuperação do próximo, assim como intuitivamente faz o professor François.

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