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Reportagens

Por uma nova perspectiva da Maurícia e seu legado

Cineasta gaúcha roda no Recife documentário sobre a presença dos holandeses

Por Luiz Joaquim | 18.03.2009 (quarta-feira)

Uma vista estonteante dos bairros de Santo Antônio, da Boa Vista, Pina, Boa Viagem e, ao longe, da cidade de Olinda, observada do topo do prédio Brasilar, na Praça da Independência, funcionava ontem pela manhã como cenário para uma conversa. Os protagonistas eram a holandesa/alemã historiadora de arte Sabrina van der Ley, o especialista na história arquitetônica do Recife, José Luiz da Mota Menezes, e o historiador sergipano Daniel Breda. A responsável pela união desse grupo nesse cenário é a cineasta gaúcha Mônica Schmiedt, que está no Recife até o final de março gravando imagens para o documentário “Doce Brasil Holandês”.

Schmiedt, cuja formação também passa pela arquitetura e história, é mais conhecida pelo documentário “Extremo Sul” (2005), no qual acompanhava uma expedição no inóspito Monte Sarmiento, ao sul da Patagônia. “Mas questões históricas sempre permeiam meus filmes”, revela a diretora, que também investigou a Antártida em 1997.

“No caso de ‘Doce Brasil…’, me interessa discutir as razões do mito que existe em achar que as coisas seriam diferentes se nossa história permanecese escrita pelo holandeses. É um história atípica em termos de colonização. Eles foram invasores que instituiram um democracia, principalmente religiosa, mas que tinham o objetivo claro de obter lucro a partir do açucar. Quando e por que começou esse mito? E por qual razão ainda persiste? Se você fizer perguntas nesse sentido aos recifenses, as respostas são impressionantes”, adianta a cineasta.

Para desenhar o que serve em seu roteiro como fio condutor para desvendar esse mito, Schmiedt resolveu se concentrar na extensa família de “Wanderley” espalhadas pelo Brasil. Com a ajuda de Sabrina, que desenvolve na Europa, ao lado do marido Markus Ritcher, um trabalho curatorial sobre o conceito de ‘cidades ideais’, a diretora vai mostrando ao seu espectador as nuances dessa história.

Além da sensibilidade e do interesse profissional pelo assunto, Sabrina é também perfeita para esse “papel” central no filme por seu parentesco distante com os ‘Wanderleys’ daqui e com a história do Brasil holandês. Ela tem como antepassado Gaspar van der Ley, que chegou por aqui no século 17 como um oficial do exército de Maurício de Nassau para construir a cidade ideal, Maurícia, hoje Recife. “Aconteceu que Gaspar gostou de graviola e araça e resolveu ficar por aqui, virando senhor de engenho”, brinca Daniel Breda.

Sabrina, pela primeira vez no Brasil, também terá registrado no filme suas impressões sobre os vestígios daquela época que resistem ainda hoje. A estrangeira aparece no filme como pesquisadora que é ao mesmo tempo em que conversa com alguns ‘Wanderleys’ e recebe informações de especialistas. Um destes é exatamente o professor José Luiz da Mota Menezes que, nos anos 1980, fazendo o mesmo percurso dos holandeses, identificou quadras/quarteirões e criou o Atlas Histórico Cartográfico do Recife.

Sobre sua participação ele conta, “a grande pergunta é: o que há de presença holandesa no Recife? O legado existe em duas vertentes, uma documental, com pinturas, gravuras e textos; e outra urbana, que até pouco tempo não era facilmente identificável”, explica o professor.

Sobre o que viu a respeito da urbanização e arquitetura no Recife, Sabrina salientou como era impressionante o misto de estilos, com prédios lembrando a arquitetura do final do século 19, início do 20, e alguns com traços dos últimos modernistas. “Uma pena que estejam em má conservação. Adoraria vê-los em outras condições”. A historiadora de arte lamentou também, de forma categórica, a presença das torres gêmeas de 41 andares no Cais de Santa Rita: “Elas distorcem a paisagem”. E a diretora Schmiedt complementou: “Quase não consigo nem olhar para elas; e a maior ironia é que, um ao lado do outro, receberão o nome de dois arquinimigos históricos: ‘Pier Maurício de Nassau’ e ‘Pier Duarte Coelho'”.

PARCERIAS
O projeto “Doce Brasil Holandês” começou a ganhar forma há três anos. Em 2007, Mônica Schmiedt esteve por aqui para começar um pesquisa e conhecer historiadores. Nesse momento, entrou em contato com João Vieira Jr., da Rec Produtores, que veio a se tornar um associado do projeto. Contemplado pelo benefício de captação da Lei Rouanet, o trabalho tem como principal patrocinador o Banco De Lage.

Antes do Recife (principal locação do filme) a equipe esteve, em outubro, gravando em Berlim, Amsterdã e Haia (Holanda). A próxima parada é no Rio de Janeiro, onde Schmiedt planeja entrevistar o historiador recifense Evaldo Cabral de Mello, uma das maiores autoridades no assunto ‘Brasil holandês”.

Captado em digital, o plano de produção de “Doce Brasil Holandês” prevê entrar na ilha de edição logo depois e deixar o filme pronto até o meio do ano. Mônica Schmiedt adianta que deve lançar o filme na TV alemã, fazendo também o circuito brasileiro pela TV a cabo, pay per view e TV aberta, provavelmente via TV Cultura.

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