Em abril, a rua Raul Azedo, no 1° Jardim de Boa Viagem, vai sofrer mais uma intervenção das construtoras recifenses, contribuindo para verticalizar ainda mais o bairro praieiro. A construção vai tomar o lugar da casa de número 95. A obra só não começou ainda porque ali é a principal locação da série para a TV “Os Sonhadores”, dirigida e roteirizada por Francisco Amorim, da Fora de Foco Produções, cujas gravações seguem até a próxima terça-feira (na casa) e até 3 de abril em outros locais.

Gerado por uma premiação do 1° Edital de Fomento à Produção Audiovisual de Pernambuco, o projeto vai produzir 26 episódios com cerca de 30 minutos de duração cada um. Com apenas R$ 100 mil liberados dos R$ 400 mil que totalizam todo o orçamento, a Fora de Foco precisou correr atrás de parceiros para dar partida às gravações. Entre eles está a Center Produções, que provê as câmeras DV-Cam utilizadas, além de trabalhar também na edição da série, e a Quanta Recife, com equipamentos para iluminação.

Foi nessa busca em minimizar custos que a casa da rua Raul Azedo foi definida como principal locação. Pertencente à família do assistente de direção Agenor Moraes, a casa foi vendida para uma construtora em função do falecimento há quatro meses de seu antigo proprietário, o avô de Agenor. Em negociação com a construtura, a demolição do imóvel foi retardada e as gravações puderam iniciar. Mas não foi só pela facilidade financeira que o casarão agradou.

Levantada nos anos 1970, com extensa área útil, e possuidora de uma arquitetura moderna que lembra a locação do filme “Eu Sei que Vou te Amar” (1986), de Arnaldo Jabor, a casa foi adequada pela direção de arte de Guryva Portela para parecer um centro de treinamento de natação.

Isso porque os sonhadores do título são nove nadadores que lutam para conseguir o primeiro lugar, e um prêmio de 100 mil dólares, para participar das Olimpíadas Lusófonas de Natação. Vivendo numa espécie de internato, eles são treinados por Glória, vivida por Laís Vieira. Aos 33 anos, Lais pode ser vista nos curtas “São” de Pedro Severien, e “Fiz Zum Zum e Pronto”, de Marcelo Lordello. Na TV, foi vista na série “Santo por Acaso”, e na campanha para prefeito de João da Costa.

No novo trabalho, seu personagem tem 39 anos e é uma ex-campeã de natação que depois de um trauma familiar torna-se uma reclusa por 20 anos, até ser convidada para treinar a nova geração de nadadores. O que Glória não sabe é que um dos competidores, todos órfãos e com a mesma idade, pode ser o filho(a) dela por quem ela toma como desaparecido(a) desde o nascimento, há 20 anos.

A trama ainda abre espaço para uma trabalho policial, através da investigadora Emília (Paulínia Albuquerque), disfarçada de funcionária do centro de treinamento; e também para um romance proibido entre Glória e um de seus alunos. Há ainda os dramas individuais de cada um dos competidores. Um foi alcoólatra, outra, como Linda (Nash Laila, de “Deserto Feliz”), saiu de casa com uma gravidez não planejada; ou ainda o caso de Tom (o moçambicano Jeff Mendes), uma espécie de intelectual entre os nadadores, que é descendente de africanos e foi adotado por um casal de portugueses.

UNIVERSALIMOS
“Muitos disseram que seria uma loucura assumir um projeto tão grande com poucos recursos. E trabalhar num produto para a TV aqui é mesmo mais complicado uma vez que a própria TV brasileira produz seus programas, ao contrário da realidade da Europa, onde as produtoras independentes são as principais alimentadoras de shows para a televisão”, lamenta Amorim.

E continua: “No caso de ‘Os Sonhadores’, o diferencial está na proposta juvenil, ágil, contemporânea e urbana da história, com abordagens fora do regionalismo que podem ser lidas universalmente. É uma história que poderia passar em qualquer lugar, acontece de estarmos fazendo aqui”, explicou.

Amorim adiante que já existe uma curiosidade das TV em conhecer o material, que deve entrar na ilha de edição em abril onde fica por cerca de um mês em montagem. Completando a equipe de criação de ‘Os Sonhadores’, estão Maria Pessoa na direção de fotografia, e Marcos Freire cuidando do visagismo (maquiagem).

Realizador implantou Big Brother em Moçambique

Conhecido pelo seu curtametragem “Capiba, 96 anos se Deus Quiser” (2001), Francisco Amorim, foi convidado, junto a Agenor Moraes, para implantar na África, ano passado, uma versão do Big Brother, mais especificamente na Televisão Independente Moçambicana (TIM). Lá o programa se chama “Casa Cool”, com 14 participantes.

Curioso observar que o enredo de ‘Os Sonhadores’, com vários jovens “internados” num centro de treinamento e sob absoluta observação dos treinadores tem o mesmo perfil do reality show, incluindo aí situações românticas, sexuais e um prêmio em dinheiro no final.

Jeff Mendes, um dos nadadores de “Os Sonhadores”, é inclusive daquele país e foi um dos integrantes da “Casa Cool”. “Infelizmente não consegui ficar até o fim do programa. Como ator, Jeff teve na África algumas experiências com improviso e papeis cômicos. Esta é sua primeira investida no drama.