Se ontem foi o dia do mestre Costa-Gavras no 13° Cine-PE, hoje é o dia do mestre pernambucano Fernando Spencer, 82 anos. Em caráter hor-concours, a platéia gigantesca do Cineteatro Guararapes verá a primeira exibição pública de seu “Nossos Ursos Camaradas”, que resgata a origem da presença do urso polar no carnaval recifense.

Quando a reportagem da Folha de Pernambuco acompanhou a primeira etapa das filmagens de “Nossos Ursos…”, no carnaval de 2008, Spencer contou seu interesse pelo assunto: “Em 2001, num conversa com o historiador Mário Souto Maior, pedi que ele me explicasse a origem da brincadeira. Ele, então, me preparou um texto contando que na década de 1920, chegou aqui no Recife um italiano com um urso domado e desafiou as pessoas para lutar com o bicho. Quem vencesse, levaria 500 réis de prêmio. O único que se candidatou foi Floriano Peixoto Filho, filho do marechal, que, a época, era campeão de luta romana. Mas a luta com o urso nunca aconteceu”, contou o cineasta das três bitolas, que agora estreia numa produção captada em digital.

Daí para frente, a figura do urso ganhou uma popularidade que nunca mais foi esquecida e recebeu diversas denominações para caracterizar os amantes ou traidores. Fiel ao seu carinho pela cultura popular local, Spencer conta essa história num formato cinematográfico em dois momentos. Numa primeira, com material de arquivo, animação e narração altiva em off de Renato Phaelante, ele explica a origem de tudo.

Num segundo momento, numa fusão de imagens interessante pela edição de J. Marcelino, Spencer leva o espectador para uma encenação divertida no qual o ator Domingos Leão faz o urso pé de lã, flagrado no ato do crime. Em breve, Domingos também será visto na TV, em junho, na minissérie “Som e Fúria”, de Fernando Meirelles.

“Nossos Ursos…” não nega o espírito e o estilo de Spencer, com seus mais de 30 filmes. Traz informação fundamentada sobre nosso folclore e vem com bastante humor, que certamente fará a platéia do Cine-PE rir bastante.

O curta nasceu a partir dos recursos do edital 2006/2007 da Petrobrás para ‘Preservação e Memória’. O diretor pernambucano foi lembrado ao lado de nomes como o do carioca Paulo César Saraceni e o do baiano Geraldo Sarno. O prêmio foi de R$ 80 mil, e a Página 21 assumiu a produção arrecadando outros R$ 60 mil para a pós-produção, o que torna “Nossos Ursos… ” o trabalho mais caro de Spencer. Na entrevista concedida à Imprensa semana passada, o próprio cineasta questionou: “Se o protocolo não fizesse tantas exigências, eu teria feito dois curtas com esse dinheiro”. O produtor Amaro Filho justifica que “Nossos Ursos…” ficou pronto pelo melhor tratamento de imagem e som do mercado, e chega com três cópias em 35mm, com uma incluindo legendas em português para deficientes auditivos.

Incansável, na mesma entrevista, Spencer adiantou alguns outros projetos que tem em mente: “Maria Matéria de Memória”, sobre Maria Bonita; e “O Dia em que Lampião enfrentou John Wayne”. Neste último Lampião vai ao cinema ver um filme de John Wayne e dorme durante a sessão. Daí, começa a sonhar lutando contra o cowboy americano. Uma graça. Que venha mais Spencer.