13º Cine-PE (2009) – noite 4
O drama e a felicidade da classe média carioca
Por Luiz Joaquim | 30.04.2009 (quinta-feira)
A atriz Dira Paes completa 25 anos de carreira em 2009 e, logo após a discreta homenagem recebida na terça-feira, durante a segunda noite do 13° Cine-PE: Festival do Audiovisual, deu-se partida a mostra competitiva de longas-metragens com “Mistéryos”. Como lembrou um dos diretores do filme no palco, Pedro Merege, o Paraná, de onde vem esta obra, não tem uma tradição cinematográfica forte. E, lamentavelmente, “Mistéryos” parece não ter empolgado a platéia recifense com relação ao trabalho dos curitibanos.
Baseado no livro “Mez da Gripe”, do escritor, falecido em dezembro, Valêncio Xavier, logo na abertura, o filme faz menção à Gripe Espahola, e nada mais atual quando o principal assunto do noticiário de hoje é a Gripe Suína. Mas, após um longuíssimo preambulo, narrado por Carlos Vereza para o que virá a ser mostrado em imagens “Mistéryos” nos leva mesmo é a 1969, quando sabemos que, no mesmo momento em que o homem pisou na lua, a jovem Jucélia (Stephany de Brito) desaparece ao andar num trem fantasma.
Num outro momento, temos Vereza resgatando um filme erótico rodado em 1922, na mesma Semana de Arte Moderna, naquele Estado. A partir do questionamento do personagem de Vereza pela inspirações desse cineasta , ele nos dá uma bela aula sobre os primórdios do cinema erótico, nos brindando com imagens raras destes filmes, que Merege e seu co-diretor Beto Carminatti conseguem, incluindo aí o famoso brasileiro “Le Film du Diable” (dos anos 1910), com a atriz Miss Ray. Talvez esse seja o maior legado deixado por “Mistéryos” que, em função de um ritmo sem organicidade, e por algumas encenações não-naturalistas, termina por tornar-se um filme apenas curioso e sem méritos para a dramaturgia cinematográfica.
PEÑA
Quando exibido na Mostra de Tiradentes, o longa da mostra oficial de hoje no Cine-PE, o carioca “Praça Sans Peña” agradou a crítica a ao público. Esta estréia num longa de ficção de Vinícius Reis conquistou a todos exatamente por alcançar uma naturalidade nas intrepretações do casal vivido por Chico Dias e Maria Padilha, numa sintonia que lembra a química que viveram em “Os Matadores” (1997), de Beto Brant.
O clima aqui não é o do gênero policial, mas o drama família da classe média carioca em pleno ano de 2003. Numa entrevista concedida em Tiradentes, Diaz resumiu bem a força da obra: “fala de problemas de nossa vida cotidiana que aparentemente nem damos conta como um grande problema, mas que no fundo elas vão se acumulando e tornam-se insuportáveis”.
No enredo, Diaz é Paulo Barbosa, um professor secundarista que ganha a chance de escrever um livro sobre a Praça Sans Peña (Rio). Durante o processo, Paulo entra em contato com uma outra realidade social de seu bairro ao mesmo tempo em que perde da vista sentimental a esposa (Maria Padilha) e a filha adolescentes, que é também sua aluna, prestes a fazer o vestibular. Nesse processo sua esposa se envolve com um jovem (Gustavo Falcão, em boa performance), tomando-o como uma provação para seu casamento. “Praça Sans Peña” deve agradar também hoje no Recife.
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