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Críticas

Divã

Gatona de Meia Idade vai parar no Divã

Por Luiz Joaquim | 17.04.2009 (sexta-feira)

Meia-idade, classe média. As palavras similares entre essas duas expressões definem a vida de uma parte do público feminino que fica numa espécie de “entrelugar”, espremido entre uma vida mediana e medíocre travestida de felicidade familiar. É nesse ponto que foca o filme “Divã”, de José Alvarenga Jr., que traz as aventuras de Mercedes (Lília Cabral) entre prazeres e perdas que mudam seu status inicial de mãe e esposa “feliz”, “sem problemas”, que vai ao psiquiatra por pura curiosidade e acaba se descobrindo uma mulher “emancipada”.

Justiça seja feita, o filme até tenta construir uma personagem central forte, que tenta dar conta da complexidade das experiências de uma mulher de meia-idade, que no cinema brasileiro parece feita de papelão em vez de ter experiências de carne e osso. No entanto, isso não quer dizer que a intenção seja bem-sucedida. A trajetória do filme se limita a testemunhar a “libertação” dessa “nova” mulher, que primeiro se livra do trabalho que não dá muito prazer, depois deixa o marido (José Mayer, o eterno garanhão das novelas brasileiras), tem histórias tórridas com garotões, tudo isso intermediado pelo psiquiatra, que não tem voz nem fala, funcionando apenas como um dispositivo que representa o espectador dentro da ação do filme.

No meio das bruscas transições entre o drama e a comédia de erros, os galãs globais Cauã Reymond e Reynaldo Giannechini ficam à deriva como meros instrumentos que mostram o corpo e o sorriso. Ao lado de cada um deles, Lília Cabral faz o possível, usando sua experiência anterior na versão para o teatro. Em certos momentos, os clichês do roteiro lembram uma versão feminina da famigerada adaptação para o cinema das tirinhas em quadrinhos “Gatão de Meia-Idade”, em que o personagem principal pensa que usar os códigos da juventude depois dos 40 anos passa necessariamente por uma infantilização do prazer.

E lá vai Mercedes aprender gírias adolescentes, indo a boates para “pegar” garotões e tentando se comportar como uma “gatinha”, quebrando a espinha para criar uma “cena engraçada”. Depois de todas essas confusões, a última imagem de Mercedes é um emblema desse “renascimento” dos valores da classe média, agora em bases mais sólidas. É como diz o ditado: “tudo muda para que tudo fique como está”.

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