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Críticas

Presságio

Misto de suspense e ficção científica agrada, apesar de Cage

Por Luiz Joaquim | 10.04.2009 (sexta-feira)

O diretor norte-americano Alex Proyas fez em 2004 “Eu, Robô”, pelo qual a carreira do astro Will Smith deu início a um percurso mais reflexivo e humano, ainda que sob muita ação e efeitos especiais. Ainda é cedo para dizer o mesmo sobre o futuro da carreira de Nicolas Cage em função dele protagonizar este novo Proyas, “Presságio” (Knowing, EUA, 2009), hoje em cartaz no Brasil.
Menos coeso em seu argumento que “Eu, Robô”, a nova obra também dialoga com a ficção científica, mas inicia sugestionando um suspense paranormal. Entretanto, este quebra cabeça, que parece difícil de montar, não incomoda tanto aqui em sua fragilidade no ponto de transição entre um gênero e outro.

Vê-se um esforço no roteiro do trio Ryne Douglas Pearson, Juliet Snowden e Stiles White para que a transição seja a mais sutil possível. mas é mesmo na direção tranquila de Proyas que “Presságio”, apesar da presença de Nicolas Cage, flui sem grandes sobressaltos, envolvendo o espectador durante toda sua duração.
A palavra para Cage é “apesar” mesmo, uma vez que a relação do espectador de hoje com seu trabalho é o do riso. Não pelo mérito, mas pelo demérito de vê-lo cometer um erro atrás do outro. Dois exemplos para refrescar: “Perigo em Bangkok” (2008) e “O Motoqueiro Fantasma” (2007).

“Presságio” nos leva para 1959 quando uma escola em Massachusetts que literalmente enterra o que eles chamam de cápsula do tempo, na verdade um cilindro de cartas de suas crianças com mensagens sobre como elas acham que será o futuro em 2009. Entre elas, há uma carta da menina Lucinda (Lara Robinson, atriz que também interpreta Abby, a neta de Lucinda), com duas páginas com um série de números aparentemente aleatórios.

Nos dias de hoje, a carta vai parar na mão de Caleb (Chandler Canterbury), filho do astrônomo John (Cage), deprimido pela morte da esposa há um ano num incêndio. Antes mesmo que Caleb comece a escutar sussurros de vultos que surgem do nada, John identifica um padrão nos números da carta que indicam diversas tragédias ao longo dos últimos 50 anos. Os indicadores são as datas e a quantidade de pessoas que morrem nelas.

É claro que a primeira identificação é a do 11 de setembro, o que dá uma potência dramática aos tais presságios. Acontece que alguns números estão abertas, o que leva John a acreditar em algo impossível: que ele pode mudar o futuro. Esse conflito faz um ligação interessante com a sensação de frustração que o protagonista vive por ter perdido a esposa. Há, ainda, um relação mal-resolvida com seu pai, um pastor, crente nos desígnios de Deus, nos quais John deixou de acreditar.

Um dos grandes méritos dessa produção de US$ 50 milhões reside mesmo é nos efeitos especiais (incluindo aí o trabalho de edição de som e seus derivados). John, tentando evitar o inevitável, acaba indo sempre parar no local das novas tragédias. Na verdade, ele vivencia as tragédias, todas num grau pesado de tensão e dramaticidade, como a queda de um avião, por exemplo.

Nesse sentido, “Presságio” coloca diante dos nossos olhos o horror de presenciar, na simulação de um tempo real, a queda de um avião, com toda força visual e brutalidade sonora que se imaginar para tal, e há poucos metros distante de nós; ou seja, “Presságio” oferece um desses prazeres únicos do cinema que é o de ter um ‘pavor seguro’. Antes da sessão peça ao gerente para aumentar o volume.

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