Hoje é dia dos pernambucanos conhecerem um novo curta-metragem da terra. “São” (2009), de Pedro Severien, ganha lançamento oficial às 19h30 no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, com entrada franca. Exibido em janeiro, na última edição da Mostra de Tiradentes, Minas Gerais, “São” chamou a atenção do curador do festival, o crítico Eduardo Valente, pela narrativa elíptica que deixa em aberto ao espectador a leitura de uma construção temporal para as situações apresentadas.

De fato, na história em que Lúcio (Júlio Andrade, de “Cão sem Dono”) repensa sua postura como homem e deixa aflorar uma tensão contra sua companheira Maria Luisa (Simone Spoladore, de “Lavoura Arcaica”), Severien deixa apenas dicas sobre o que é passado, presente ou apenas um sonho ruim. Esta sadia confusão narrativa não só encaixa bem com a perturbação psicológica de Lúcio, como também ajuda o espectador a ‘participar’ dela.

Severien, que na formação como cineasta passou pela Academia de Cinema de Nova Iorque e por um mestrado em produção de cinema em Bristol, Inglaterra, apresenta-se com “São” uma face nova, como autor que está atento para as sutilezas e mazelas humanas de uma relação familiar. Talvez o mais forte reflexo disso esteja na dura carta que Lúcio lê, deixada pelo seu pai, vaticinando: “Você não existe como ser-humano. Você não passa de uma ilusão. Sua identidade de homem é uma cópia rasurada da fantasia de uma criança”, diz.

Além desta forte carga dramática, há uma excelência técnica em “São” que salta aos olhos em vários quesitos. A começar pela fotografia limpa e clara de Pablo Baião, passando pela performance irrepreensível do elenco (incluindo uma participação de Germano Haiut), no roteiro objetivo de Severien dividido com Daniel Aragão e Ana Lu, a ainda na trilha sonora discreta de Tomaz Alvez Souza. A junção desses talentos faz do filme um produto de reconhecível qualidade apto a concorrer em qualquer festival de cinema.