Quem anda pela casa dos 40 anos terá afinidade imediata com o tema de “Tony Manero” (Chile, 2008), segundo longa-metragem do diretor Pablo Larrain, que tem chamado atenção por onde passa com a história do personagem Raúl (vivido pelo ator Alfredo Castro, ótimo). Com estreia no Cinema da Fundação, “Tony Manero” apresenta a obsessão de Raúl – um chileno pobre de 52 anos, vivendo em 1978 em plena ditadura de Pinochet – em ser Tony Manero.

Para a nova geração, vale explicar que Tony Manero era o nome do personagem vivido por John Travolta em 1977 no filme de John Badham, “Os Embalos de Sábado à Noite”. O filme não só catupultou a carreira de Travolta para a estratosfera, como também anunciava uma nova era, a da discoteca, que viraria febre pelos sete anos seguintes ao redor do mundo; além claro de ditar moda e estilos de vida. No Brasil, entre os quarentões, não será difícil lembrar da novela da Rede Globo “Dancing Days” (1978).

Importante dizer que “Tony Manero”, o filme, não é exatamente divertido, mas sim bastante tenso. Larrain usa a história de Raúl e suas perturbações como um pano de fundo para fazer um retrato seco e desiludido daquele cenário autoritário do Chile. Ao mesmo tempo, Larrain é competente o suficiente para na carregar na tinta ideológica. Dá pitadas de como o governo interferia brutalmente na vida de uma comunidade pobre como a que Raúl convive, ao mesmo tempo em que vai liberando nuances da mente perturbada do protagonista e suas frustrações, inclusive sexuais.

Raúl só ganha ânimo quando uma TV local promove um concurso para encontrar o Tony Manero chileno. Na verdade, a idéia construída em função da fixação de Raúl com o estrelato e a submissão forçada da comunidade chilena nos anos Pinochet, é um belo paralelo para enterdemos aquela sociedade violenta pela qual uma duplicidade no discurso entre “ordem” e “violência” só podia gerar escapismo para a fantasia do glamour e sucesso do estrangeiro, particularmente gerado por Hollywood.