13° Cine-PE (2009) – noites 5 e 6
Risos e piadas encerram competitiva do Cine-PE
Por Luiz Joaquim | 03.05.2009 (domingo)
Sem a menor poeira de dúvida, a noite de sexta-feira do 13° Cine-PE: Festival do Audiovisual, trouxe ao público seu longa-metragem mais popular. A prova estava logo na abertura do filme que, mesmo antes de jogar imagem na tela, convocava a plátéia apenas com a voz do Velho Guerreiro perguntando: “Terezinha?”, para cerca de 2.500 pessoas no Cineteatro Guararapes dar a clássica resposta em uníssino: “uh, uuuh !”
Essa introdução foi uma ótima prévia para desconfiarmos como seriam os 90 minutos seguintes de interação público x filme. A entrega foi completa. Isso porque o documentário “Alô, Alô Terezinha!”, de Nelson Hoineff, incorporou em sua própria opção de construção de sentidos o espírito galhofeiro e debochado dos programas do pernambucano Abelardo Barbosa (1917-1988), o Chacrinha.
Mesmo na apresentação, Hoineff, jornalista, veterano crítico de cinema e habilidoso manipulador de imagens de arquivos, avisou ao público que o filme não tratava de uma cinebiografia sobre a vida do comunicador, mas um resgate do seu modo de agir e trabalhar, além de sua influência na vida profissional daqueles que passaram pelo seu programa.
Entre esses estão ex-calouros, artistas (Fábio Jr., Wanderley Cardoso, Roberto Carlos, The Fevers, Aguinaldo Timótio, Biafra, Nelson Ned e outros), jurados (Elke Maravilha), produtores e ajudantes (My Boy, Russo) e, sobretudo, as chacretes. À estas últimas, Hoineff concentra a maior parte de seu filme lembrando o que elas eram e apresentando o que elas são hoje.
O saudosismo nelas existe mas, em certo sentido, Hoineff mostrou-se entusiasmado em explicitar a decadência do que antes era símbolo de beleza feminina e desejo na TV brasileira e hoje transformou-se no oposto diametral do glamour. Também seguindo seu espírito denunciativo de repórter, Hoineff não aliviou em manter o depoimento das chacretes no que diz respeitos a casos sexuas com artistas e até um ex-Presidente da República.
Há entretanto uma linha que Hoineff parece ultrapassar no que diz respeito ao cuidado ético que se aplica nesses dias politicamente correto de hoje. Na verdade, é uma questão muito acima desse preceito. Quando o cineasta exibe a chacrete Índia Potira dançando nua numa praça pública ou coloca dois ex-calouros gagos cantando “Gago Apaixonado”, de Noel Rosa, (entre outras situações) soa como a exploração da graça em detrimento da imagem do entrevistado, e não como um acrescimo de informação para delinear uma representação do Chacrinha, que apesar de escrachado em tudo, era também cuidadoso com seus calouros e protetor de suas chacretes.
ESTRANHOS
O último longa-metragem competitivo do 13° Cine-PE, a ficção “Estranhos”, do baiano Paulo Alcântara, também encontrou um público largo e barulhentamente inquieto por entretenimento na noite de sábado do Cineteatro Guararapes. O filme, o único totalmente inédito da programação, pretende mostrar uma Salvador urbana e cosmopolita, diferente da estigmatizada pela mídia tradicional em função do estereotipo de sua cultura.
Daí temos quatro núcleos dramáticos que se interralacionam em algum momento da história. Um músico de rua que se apaixona por uma ex-prostituta hoje casada com um sujeito violento, um bandido gay apaixonado por seu inexperiente parceiro do crime, um casal de crianças que se diz apaixonado pela primeira vez, e uma professora alcoólotra que tem o diretor da escola e o açougueiro do bairro por ela apaixonados.
É curioso o argumento de “Estranhos”, e traz em seu roteiro (de Carla Guimarães e Santiago Roncaglicio) uma certa leveza e liberdade interessante na sugestão das idéias. Mas, claramente, vemos estampado na tela uma produção limitada na direção de arte, além de (não há outra palavra) pobreza na direção de Alcântara. A imprensão que se tem é a de que o montador Jaime Queiroz teve muita dificuldade para dar dinamicidade à tensão que o diretor pretendia alcançar aqui com os poucos planos fixos que lhe foi entregue na ilha de edição.
Num misto de tom entre o piadístico e o romântico, “Estranhos” foi ganhando uma parte do público do 13° Cine-PE aos poucos mas, ao final, deixou a sensação que ali tinhamos um produto bem aquém de concorrer num festival cinematografico.
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