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Festivais

4o CinePort (2009) – dia 6

O lado B da ditadura e o Kuduro

Por Luiz Joaquim | 07.05.2009 (quinta-feira)

JOÃO PESSOA (PB) – Um documentário brasileiro de narrativa até certo modo tradicional, mas com um vigor investigativo impressionante, foi a estrela na noite de ontem (6) no 4º CinePort. “Cidadadão Boilesen”, dirigido pelo jornalista e funcionário da ONU nos EUA, Chaim Litewski, cai como uma bomba sobre uma assunto delicadíssimo de tratar ainda hoje: o financiamento de empresários brasileiros, paulistas em específico, para a repressão militar a partir da instauração do AI-5, em dezembro de 1968. Na verdade, o foco do documentário é a trajetória do empresário dinamarquês, naturalizado brasileiro, Henning Albert Boilesen, diretor da Ultragás, cujo assassinato em dia 15 de abril de 1971 foi atribuído aos guerrilheiros da ALN e MR-8.

Vencedor, há dois meses, da última edição do “É Tudo Verdade”, o filme de Litewski faz um breve traçado sobre vinda do empresário ao Brasil e sua meteórica ascenção no empresariado paulista, fincando-se como um dos executivos com maior poder de aglutinação nesse meio. Reconhecido na sociedade como benfeitor social, mulherengo, amigável e figura vital para o progresso do País, Boilesen tem seu lado negro analisado no documentário, que vai revelando o perfil de um sádico a partir dos depoimentos de seu filho, de historiadores, jornalistas, políticos, ex-integrantes da luta armada e militares.

Esse mosáico de entrevistas vai formando a imagem de um perverso que, afirmam, não só frequentava as sessões de tortura no Doi-codi em São Paulo, como também contribuia aparelhando os torturadores; importando dos EUA instrumentos como a pianola, uma máquina de eletrochoque contínuo. Junto as entrevistas, Litewski faz um paralelo com os filme “Lamarca” (1994) e “Pra Frente Brasil” (1982) o que ajuda a ilustrar visualmente o requinte de crueldade no processo. O que o documentário deixa claro é que Henning Boilesen é apenas uma das dezenas de empresários que financiavam a Operação Bandeirantes (Oban) – que foi a sofisticação da polícia pela caça e tortura de guerrilheiros – e que esse é um assunto que ainda rende muita polêmica.

Saindo da violência da Ditadura, o CinePort ofereceu ao público da mesma noite o show de um coletivo de DJs da Angola, que trouxeram o ritmo do Kuduro a João Pessoa. O gênero, uma espécie de mambo africano com repetida batida eletrônica, nasceu em Portugal e foi “transformado” no país africano para daí ganhar o mundo. Acompanhados por dançarinos(as) do país, o ritmo fez ferver a Tenda Música madrugada adentro. A apresentação foi embalada pela ginga das dançarinas que, mesmo insinuando sexualidade no movimento (mas em tom de brincadeira), faria as bandas techno-bregas e baianas daqui passarem vergonha.

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