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Festivais

4o CinePort (PB, 2009) – dia 5

A lingua portugues na tela

Por Luiz Joaquim | 06.05.2009 (quarta-feira)

JOÃO PESSOA (PB) – Um dilúvio desabou sobre João Pessoa no final de semana, tornando os primeiro dias do 4º. CinePort: Festival de Países de Lingua de Portuguesa, iniciado sexta-feira e seguindo até domingo, um exercício de abnegados pela cinema por aqui. Jornais reportam que a chuva não intimidou os pessoenses no sábado, mas o domingo não registrou as grandes filas que costumam se formar na Usina Cultural Energisa.

O espaço, desde 2007 (ano da edição 3 do evento que é bienal), tornou-se o QG do CinePort, agregando um complexo com duas salas de exbição – a Tenda Andorinha, com 600 lugares para projeção digital e em 35mm (de ótima qualidade) e a Sala Digital, com 200 lugares -, uma galeria de arte, um espaço gastronômico e um tenda musical, onde diariamente, encerrando as exibições por volta da meia-noite, tomam lugar shows com a apresentação de grupos africanos e do Brasil.

Promovido pela Fundação Cultural Ormeo Junqueira, o CinePort agita culturalmente João Pessoa por dez dias, articulando um intercâmbio produtivo para a cidade. Recheada com cerca de 150 filmes, entre curtas e longas-metragens, são contempladas produções dos oito países que compartilham nosso idioma. Além do Brasil e Portugual, temos trabalhos da Angola, Moçambique, Timor Leste, São Tomé Príncipe, Guiné Bissal e Cabo Verde.

Entre as produções brasileiras não há novidades, considerando que os títulos aqui que competem pelo troféu Andorinha (símbolo do festival) têm de, necessariamente, ter já sido exibidos no circuito comercial brasileiro. O que não significa, entretanto, já terem sido projetados no pequeno circuito comercial de João Pessoa. Por exemplo, “Encarnação do Demônio”, do Mojica Marins, é inédito por aqui e passa hoje às 16h sob muito expectativa.

Dessa forma, o CinePort mostra sua pertinência para o circuito nacional de festivais de cinema a partir dos títulos estrangeiros em sua programação, além, claro, dos lançamentos de livros, homeagens a cineastas lusófonos (com presensa deles), oficinas e diversas fóruns. Um deles, promovido hoje pela manhã, trouxe duas recifenses: Carla Francine, pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), e Cátia Oliveira, representando a delegacia regional do MinC. Eles compuseram a mesa sobre o Desenvolvimento Audiovisual na Paraíba.

Mas para os realizadores pessoenses, esta edição do CinePort será lembrada também pelo lançamento do edital que destinará, pelo Governo do Estado, R$ 200 mil para a realização de um curta-metragem. Lançado pelo próprio governador, José Maranhão, na abertura do evento, o prêmio leva o nome do lendário cineasta local, Linduarte Noronha, diretor do seminal “Aruando” (1960), presente na solenidade. O único senão desta que é a primeira ação do governo paraibano em prol do cinema, se refere ao fato de o projeto que se candidatar ao prêmio ter sua abordagem limitada à cultura paraibana.

EM COMPETIÇÃO
A noite de ontem, terça-feira (5), exibiu “Mal Nascida” (2007), longa-metragem lusitano dirigido por João Canijo e produzido por Paulo Branco. Filme funciona numa impressionante construção de atmosfera na qual estamos numa comunidade rural, com tons quase medievais, protagonizado por Lúcia (a ótima Anabela Moreira). É um mulher de vinte e poucos anos em eterno luto e sedenta de vingança pela morte do pai. Vive com sua mãe e padrasto, os quais acusa de ter assassinado o pai dela para daí usufruir de uma herança.

“Mal Nascida” traz uma combinação curiosa de um roteiro de dramaturgia febril (lembrando a espanhola), mas com interpretações contidas (e belas) além de uma postura cinematográfica que remetem mais a frieza do cinema francês ou dos países baixos. Há um controle absoluto de Canijo no que filme e como filma. Cada enquadramento parece calculadamente definido e assim executado, o que resulta num filme sério, elegante, sorumbático e assustador no que diz respeito ao final trágico da protagonista. Em tempo: a falta de legendas expulsou mais da metade da platéia ao longo da exibição, pela dificuldade em entender o que era dito pelos atores portugueses.

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