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Reportagens

O prodígio da Paraíba

Equipe quer lançar o filme no Festival de Brasília

Por Luiz Joaquim | 12.05.2009 (terça-feira)

Semana passada, enquanto transcorria em João Pessoa o CinePort: Festival do Cinema de Países de Língua Portuguesa, uma outra cidade paraibana respirava cinema. Por 20 dias, entre 16 de abril e 5 de maio, Campina Grande foi o cenário das gravações do longa-metragem “Tudo o Que Deus Criou”.

A notícia por si só já é celebrativa pelo fato do pequeno histórico do estado como produtor de longas metragens – apesar da mais que interessante tradição em curtas metragens. O último longa rodado por lá, por exemplo, foi o frágil “Por Trinta Dinheiros”, em 2005, por Vânia Perazzo.

Mas ela, a notícia, fica melhor quando seu complemento diz que o diretor é André da Costa Pinto. Um jovem de 23 anos que roteirizou, produziu e reuniu um grupo local (95% da equipe é da Paraíba) para transformar em realidade seu projeto, ao custo de apenas R$ 150 mil. Como se não bastasse, o cineasta conta em seu elenco com nomes como Maria Gladys, Letícia Spiller, Paulo Vespúcio e Gusta Stresser. O que se perguntava em João Pessoa era como André conseguiu tal proeza.

Conhecido por lá por ser um entusiasta pelo cinema, André ganhou maior notoriedade pelo curta-metragam “Amanda e Monike”. Realizado no ano passado, o documentário falava sobre o homossexualismo no cariri paraibano e sobre os preconceitos sobre a questão naquela região. “Amanda e Monique” ganhou, não só, a Calunga de melhor curta digital no Cine-PE 2008, como também diversos prêmios país afora. Seu mérito não estava apenas nos troféus que recebeu.

Foi inclusive a boa repercussão do curta que gerou o roteiro de “Tudo o Que Deus Criou”. André conta que certa vez caminhava por Campina e um desconhecido o interceptou na rua: “Posso lhe dar um abraço? Foi o que ele disse. Fiquei curioso e disse que não ia lhe negar um abraço, mas antes ele tinha que explicar a razão. Foi quando ele me convidou para ir em sua casa conhecer seu filho, com quem ele não falava há seis meses por descobrir que ele era homossexual. O senhor disse que após ver Monike e Amanda’ entendeu seu drama e reatou com ele”, lembrava o diretor.

E o que o longa-metragem tem a ver com isso? Tudo, pois a idéia para o roteiro veio de uma história contada por um amigo do filho do tal senhor. André faz mistério sobre a história e diz apenas que seu longa “fala de um senhor cego, um órfão, um recém-nascido abandonado e um jovem de 23 anos em conflito”.

O dinheiro veio da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e foi destinado para um projeto cinematográfico. “150 mil para mim era uma fortuna. Se faço um curta com R$ 8 mil, por que não um longa?”, brinca. Como era de se espera, quase todo mundo trabalhou de graça, tendo, entre a equipe, 80 estudantes estagiários. “Foi uma experiência fabulosa. Exceto pelo elenco de fora, era o primeiro longa-metragem de todo mundo”, concluiu.

Elenco estelar reforça o projeto

Outra grande pergunta entre os pessoenses da área de cinema era como um garoto de 23 anos tinha arregimentado um elenco estelar como Maria Gladys, um das musas do Cinema Novo que já foi dirigida por gente que vai de Domingos Oliveira (“Todas as Mulheres do Mundo”), Rui Guerra (“Os Fuzis”) até Glauber Rocha. Sobre este último, conta André, Maria Gladys disse que ficava estimulada em trabalhar com jovens e quando trabalhou com o ícone cinemanovista, ele também tinha 23.

Já Paulo Vespúcio (ator do premiado “Um Céu de Estrelas”), foi diretamente convidado por André quando este o conheceu num festival. “Ele leu o roteiro e aceitou rápido”, regozija-se André. Além de Guta Stresser, atriz dirigida pelo pernambucano Heitor Dhalia em seu primeiro longa “Nina” (2005) e estrela da séria “A Grande Família”, “Todas as Coisas do Mundo” conta também com Letícia Spiller, a última a entrar no grupo.

“O Vespúcio levou o roteiro para ela que leu em uma noite e me ligou no outro dia pedindo um personagem específico. Eu até cheguei a comentar que não enxerga o personagem pelo seu biotipo, mas ela usou um contra-argumento forte. Disse: ‘deixa eu brigar pelo papel”. André diz também que ficou impressionado com a entrega da atriz para dramaticidade, que envolve cenas, inclusive, de nú.

O plano da equipe, que se debruça esta semana na edição, é deixá-lo pronto para concorrer no Festival de Brasília, com cópia em 35mm. Mas quem pensa que André se dá satisfeito, precisa ouvi-lo falar do próximo longa-metragem, do qual ele só adianta o título, “E Lá Se Foi a Vida”.

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