Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei
Em memória de Simonal
Por Luiz Joaquim | 13.05.2009 (quarta-feira)
Você sabe em que ano faleceu Wilson Simonal? É provável que muitos nem saibam quem foi ele, mesmo que ainda, involuntariamente, cantarolem alguma de suas músicas. O documentário “Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei” (Bra., 2008) gera uma ótima oportunidade para entrar em contato não só com esse artistas que mobilizou centenas de milhares de brasileiros nos anos 1960 com seu carisma e competência musical, como também para rever e entender, com o distanciamento de 40 anos, os motivos que o levaram a um ostracismo profundo da mídia nacional e do mercado fonográfico.
Dirigido a seis mãos – pelas de Cláudio Manoel (o “Seu Creysson”, do Casseta), de Micael Langer e Calvito Leal -, o filme nasceu do interesse de Manoel em se aprofundar nessa história. De como se deu a reviravolta na carreira do cantor. Depois de levantar algumas informações, ganhou o apoio da segunda esposa de Simonal mas não conseguia financiamento para realizar o documentário. Até que decidiu colocar dinheiro de seu próprio bolso e ganhou o reforço de Langer e Leal.
O subtítulo do filme foi extraído da música “Carango” e resume bem a trajetória de baixo para cima e de cima para baixo pela qual passou o artista. Com muito bom material de arquivo – incluindo cenas do filme “É Simonal” (1970), de Domingos Oliveira, e das apresentações comemorativas da TV Record na época de seus musicais – o documentário deixa claro que ele foi o primeiro show-man brasileiro, dono de uma potente empatia com sua platéia.
As imagens da famigerada apresentação no Maracanazinho – abrindo (e roubando) o show que seria de Sérgio Mendes, recém-consagrado nos EUA – são prova disso. Regendo cerca de 30 mil pessoas (ou seriam 50 mil?) não como negar seu talento e segurança como entertainer. E para não deixar dúvidas a potencia de sua voz, o filme nos dá uma apresentação do cantor ao lado de, ninguém menos que Sarah Vaughan. É de cair o queixo, principalmente quando seu colega Tony Tornada revela que Simonal não falava inglês.
Os diretores não se restringiram aos depoimentos de músicos da época, mas também de jornalistas – Nelson Motta, Arthur da Távola – e outros artista em geral, entre eles Miele, Chico Anysio, Ziraldo e Jaguar que, inclusive, junto a outros colegas do “Pasquim”, moveram forte campanha contra Simonal em 1970 a partir do episódio em que foi acusado de seqüestrar seu contador.
Era o começo do pesadelo que Simonal viveria até o fim da vida. Pelo seqüestro ter sido vinculado a policiais da linha dura da tortura militar, Simonal passou a ser visto como delator dos colegas para a repressão. A partir daí todas as portas se fecharam para nunca mais abrir. Para passar da imagem de artista mais popular do Brasil – ao lado de Roberto Carlos e chegando a fazer mais de 300 shows por anos, incluindo no exterior – para a de dedo-duro da classe artística foi muito rápido. O inverso nunca aconteceu. Talvez este filme possa ajudar. Em tempo: Simonal morreu em 2000, sua música não.
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