Simplesmente Feliz
Porque a vida pode ser boa
Por Luiz Joaquim | 08.05.2009 (sexta-feira)
Há um conceito norte-americano para filmes que, ao final da sessão, deixam o espectador com a idéia de que a vida pode ser boa. São os chamados “feel-good movies”. “Simplesmente Feliz” (Happy-Go-Lucky, Ing., 2008), de Mike Leigh que estreia hoje nos Cinemas da Fundação e Rosa e Silva, pode ser confundido com esse gênero, mas a comparação deve ser evitada.
O filme, que deu a Sally Hawkins o Urso de Prata de melhor atriz em Berlim 2008 além do Globo de Ouro em janeiro pela mesma categoria, certamente vai encerrar a sessão imprimindo um sorriso largo no rosto de todos seus espectadores. Mas, neste trabalho, Leigh não empurra a seu público questões fáceis para serem facilmente resolvidas e daí vir a sensação da felicidade fácil.
Não. O que Leigh faz, conhecendo seu cuidado na confecção de personagens – em particular os femininos – e os dramas do cotidiano (vide “Garotas de Futuro”, “Segredos e Mentiras” e “Vera Drake”), é nos dar mais uma pérola de personagem cuja energia positiva está lá, independente das adversidades da vida.
São personalidades raras, que sabemos existir na vida fora da tela, e até podemos conhecer uma perto de nós, e mesmo assim nunca entendemos muito bem o que leva tal figurinha a ser tão feliz o tempo todo. É um tipo de felicidade que chega a irritar alguns tipos de neuróticos, que não aceitam tanta harmonia numa mesma pessoa. No filme, a melhor representação desse infeliz, além de aparecer na irmã grávida de Poppy, está mesmo na cômica figura do professor de auto-escola de Poppy, na pele do ótimo Eddie Marsan.
Muito espertamente, Leigh não explica porque Poppy é tão feliz. Simplesmente porque isso não se explica. É uma sensação que se percebe (e se é contagiado por ela). O que Leigh faz é colocar o espectador lado a lado de Poppy, deixando-a próxima o suficiente para entendermos que a existência do problema (ou do não-problema) depende de quem o enxerga assim.
Com seu sorriso constante, a professora primária de Londres é um personagem esfuziante, irradiando felicidade e alegria a todos que estão a seu redor. O roteiro dá a medida certa para entender que sua alegria estabanada e piadística é autêntica, sem artifícios ou artimanhas.
Há um esquema neste roteiro que coloca tudo em função de nos demonstrar sua personalidade. O esquema não incomoda e cumpre a função de apontar uma seta em direção à vida, sob uma perspectiva quase infantil (no bom sentido), dizendo que vivê-la é simples, o problema é que nem todo mundo sabe o que fazer com ela.
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