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Críticas

Vocês, Os Vivos

Um olhar sobre os humanos

Por Luiz Joaquim | 29.05.2009 (sexta-feira)

Há uma certa frieza nesse curioso filme escandinavo “Vocês, Os Vivos” (Du Levande, Din., Fra., Ale., Nor., Sue., 2007), em cartaz no Cinema da Fundação. O principal elemento dessa frieza está na baixa temperatura das cores (ou quase ausência delas) impressas na fotografia da obra formada pelas 57 cartelas de imagens que compõem este trabalho de Roy Andersson. É frio mas é humorado.

O humor, entretanto, funciona num nível digamos, escandinavo. Traduzindo, há uma graça aqui que vem particularmente pelo contraste entre a não-reação de seus personagens, ou entre as suas polidas reações, a algumas situações absurdas que cada um dos quadros fixos oferece. Estes quadros são matematicamente compostos pelo câmera muitas vezes imóvel, enquadrando a entrada de um elevador, um ponto de ônibus, um quarto, a fachada de um restaurante, um bar, um escritório, uma barbearia, um banco na praça, uma sala de aula primária, um engarrafamento de trânsito e tantos outros cenários.

É por aí que vão transitando diversos personagens que dão forma a nós, os vivos. Assim, vão se desenhando em poucos minutos microdrama interrelacionados entre si, ou não, que apesar de suscitar o nosso riso, ainda que curto, ressalta também uma certa melancolia. É fácil rir da ingenuidade do homem que tenta fazer o truque de puxar a toalha sem derrubar a porcelana da mesa, mas não há como rir escancaradamente desse mesmo homem ao ser condenado à cadeira elétrica enquanto seus juízes bebem cerveja.

É fácil rir do motivo que faz a professora chorar descontroladamente no colégio, mas não é tão divertido ver, logo em seguida, o arrependimento de seu marido, que a fez sofrer. Há também tristeza no amor solitario que a fã de um roqueiro sente à distancia, mas há uma atmosfera lúdica em seu sonho, casada com ele.

Andersson fez um filme curioso e diferente. Seja pela escolhas das situações, seja pelo reflexo de seus personagens que nos fazem pensar em nós mesmo e na nossa capacidade de ser feliz ou infeliz, revoltados ou satisfeitos, ansioso ou tranquilo, esperto ou bobo, e tudo por muito pouco. Entremeando esse universo, está a comunicação entre nós, humanos, acontecendo, ou falhando, e definindo o rumo das coisas.

Apesar do belo conceito por trás de “Vocês, Os Vivos”, o filme não consegue segurar o fôlego do espectador. Consegue sim gerar o riso curto, como já mencionamos, mas não engata quando tenta sugerir o outro lado, o da fragilidade, neste mesmo humano. A reflexão está lá bem sugerida, mas o sentimento não. Isso signfica que o cérebro do espectador tem muito tempo para pensar durante a projeção. Já o coração não tem muito trabalho.

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