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Festivais

4o CineOP (2009) – dia 3

CineOP questiona as Globochanchadas

Por Luiz Joaquim | 22.06.2009 (segunda-feira)

OURO PRETO (MG) – Um mesa de debate digna de um registro audiovisual foi formada por Carlos Reichenbach, Guilherme de Almeida Prado, Inácio Araújo e a atriz Neide Ribeiro na tarde de domingo no 4º CineOP: Mostra de Cinema de Ouro Preto. O grupo, incompleto com a ausência do cineasta Alfredo Sternheim, discutia as “Estratégias da Boca do Lixo”, dentro da temática histórica que formam os seminários da mostra.

Para quem não sabe, “Boca do Lixo” era o nome do espaço geográfico próximo a Estação da Luz, ali pela Rua do Triunpho, em São Paulo, onde se era produzido nos anos 1970 o grosso da pornochanchada, talvez o gênero cinematográfico brasileiro mais popular, fazendo com que o cinema nacional alcançasse até 30% dos bilhetes vendidos por ano no país.

Neide Ribeiro abriu a conversa com humor lembrando que, no seu caso, não havia nenhuma pretensão artística mas só monetária mesmo. Carlão e Almeida Prado refutaram seu argumento dizendo que, mesmo sendo assim, Neide era uma das poucas atrizes que de fato interpretavam naquela época, ao invés de só mostrar o corpo diante da câmera.

O crítico Inácio Araújo, que trabalhou como roteirista e montador naquele perído, chamou atenção para o fato que a temática sexual é de interesse primordial da humanidade, e o sucesso dos filmes era um indicador disso. “O público também não era burro, sabia diferenciar o filme ruim do bom. Havia também uma identificação, por parte desse público, em entender a pornochanchada como uma espécie de resistência à ditadura”.

Carlão, por sua vez, começou a fala destacando seu interesse em lançar dois livros, ’60 filme notáveis’ e ’60 filmes notáveis brasileiros’. “Achei que para este último o maior volume seria dos anos 60, mas já percebi que a presença da produção dos anos 70 será maciça”. Carlão lamentou o modo como a capitção de recursos se encaminhou daquele período até hoje. “Antes eu tinha de negociar com os produtores da Boca, agora tenho de fazer um vestibular e convencer um panaca qualquer que eu posso fazer um filme”, disse. Fervoroso, Carlão ainda ressaltou como é triste um país obrigar gente com Nelson Pereira dos Santos e Eduardo Coutinho a fazer ‘vestibular’ para poder produzir – referindo-se aos concurso de lei de incentivo à cultura.

O mais polêmico depoimento veio de Almeida Prado, dizendo que as ‘Globochanchadas’ – filmes como “Se Eu Fosse Você 2”, “Divã”, etc. (sem entrar no mérido da qualidade desses filmes), estão montando uma cama com o público brasileiro na qual outros realizadores teriam a chance de mostrar seu trabalhos mais alternativos. Carlão logo interveio nervoso, deixando claro que não aceita essa alternativa. “Um filme dá certo hoje com o público e já vira parâmetro. Não pode. A moda é o câncer da arte. Parâmetro para mim são ‘Justiça’, ‘Bezerra de Menezes’ e ‘O Garoto Cósmico’. Filmes dirigidos são a solução. O subproduto da TV como parâmetro me deprime profundamente”, encerrou

O tema ‘Boca do Lixo’ continuou depois com a exibição de “O Galante Rei da Boca”, de Luís Rocha Melo e Alessandro Gamo, e “Minami em Close Up: A Boca em Revista”, de Thiago Medonça. Um pouco mais cedo, o CineOP ofereceu um tesouro: seis curtas-metragens em 16mm recuperados pela Cinemateca Brasileira. Eram, em sua maioria, documentários realizados por Joaquim Pedro de Andrade na primeira metade dos anos 1970 para um telejornal paulista. Destaque para “Pedreira”, “Ônibus”e “Restos”, este último, uma espécie de ‘avô’ do “Ilha das Flores”.

O momento mais bonito do domingo foi sem dúvida a apresentação do projeto “Le Rendez-Vouz du Sam’Di Soir” com performances, para um Cine Vila Rica lodado, dos franceses Céline Benezeth (violino), Marco Palmeira (piano) e Maxime Roman (guitarra). Eles musicaram os filmes mudos de “A Pequena Vendedoras de Fósforos” (1928) e “Sobre um ar de Charleston” (1926), ambos de Jean Renoir, e “Intervalo” (1924), de René Clair.

*Viagem a convite do CineOP

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