X

1 Comentário

  • Lucilo Correia de Araujo

    Um permambucano histórico que honra o nosso Estado

  • Entrevistas

    Entrevista: Celso Marconi

    Celso Marconi vai lançar DVD com 22 curtas

    Por Luiz Joaquim | 22.06.2009 (segunda-feira)

    Foi semana passada, em sua casa, num terraço generoso e arejado, em Bairro Novo, Olinda, que o jornalista Celso Marconi, prestes a completar 79 anos no próximo agosto, concedeu uma entrevista ao CinemaEscrito. Quem primeiro veio receber a reportagem no portão, latindo, foi seu cachorro. “Macho ou Fêmea?”, perguntamos. “Macho”, respondeu Celso. “Ele é o Luc. O Jean-Luc Jomard”, nos apresentou, com um sorriso.

    Para quem conhece um pouco Celso Marconi, entende a brincadeira vinculando um dos maiores nomes do cinema francês, Godard, ao seu amigo de mais de meio século, o pop-filosófico Jomar Muniz de Britto. O CinemaEscrito foi atrás da novidade que Celso Marconi está organizando para anunciar em breve. O lançamento de um DVD duplo, totalizando seis horas e 40 minutos de 22 filmes, boa parte feito em Super-8, rodados a partir dos anos 1970, a década efervescente da bitola.

    Seis dos filmes são apresentados finalizados e os outros em estado bruto ou retrabalhados recentemente, com inserção de uma nova banda sonora, além entrevistas no formato digital. O projeto do DVD “O Cinema de Celso Marconi” foi aprovado pelo Sistema Municipal de Incentivo a Cultura da Prefeitura do Recife em 2008 e está praticamente pronto, com as cópias do disco sendo feitas em Paris, pelo genro de Celso, que mora lá. “Ele trabalha com essa tecnologia e está tornando a confecção de mil cópias mais em conta”, explica. Celso só depende agora de um apoio financeira para fazer o transporte do material para o Recife e lançar o trabalho.

    Uma vez lançado, o DVD irá apresentar a uma nova geração o cineasta Celso Marconi, que alguns já conheciam como filósofo, jornalista, crítico de cinema, escritor, professor e, hoje, também blogueiro (http://celsomarconi.blog.uol.com.br) e usuário do Twitter.

    Tendo iniciado a carreira como crítico de cinema já no final dos anos 1950, quando ainda não existia essa denominação para quem comentava e reportava sobre cinema nos jornais, Celso é uma rica fonte sobre a história do ofício no Recife. Uma seleção de seus escritos, ao longo da função até 1989, quando encerrou seu trabalho no Jornal do Commercio (tendo iniciado lá em 1966), já rendeu dois livros – “Obra Jornalística de Celso Marconi” (2000) e “Super 8 e Outros: Cinema Brasileiro” (2002) – e vindo mais dois a caminho.

    PRINCÍPIO
    No princípio havia o Direito, curso superior que junto a medicina e engenharia fazia brlhar os olhos dos pais dos adolescentes nos anos 1950. Celso Marconi era um destes jovens que, após uma frustrada tentativa de passar no vestibular para Direito por orientação do pai, iniciou sua educação em filosofia na Universidade Federal de Pernambuco, quando ainda funcionava na rua Nunes Machado. Ali por volta de 1955, foi aluno na cadeira de Estética ministrada por Ariano Suassuna, personalidade com quem Celso protagonizaria um encontro polêmico vários anos depois.

    Com os amigos do curso, entre eles Jomar Muniz de Britto, já frequentava os cinemas olhando para os filmes como um exercício do pensar. “Um colega, Jairo, reclamava comigo dizendo que cinema era a única coisa que a gente tinha para se divertir e eu ainda ficava olhando para o cinema como algo muito sério”, relembra.
    O amplo interesse o levou a frequentar alguns cineclubes, dos quais o primeiro foi o “Vigilante Cura”. Era organizado pela Ação Católica, no 7º andar de um prédio na rua do Riachuelo. Depois começou a de fato estudar cinema no “Cineclube do Recife”, que promovia os encontros no teatro do Quartel do Derby, coordenado por José de Souza Alencar (o colunista Alex, do Jornal do Commercio, que naquela época assinava crônicas sobre cinema com o pseudônimo de Ralph).

    Foi por essa época que Celso começou a colaborar no jornal Folha do Povo, do partido comunista, também assinando sob o pseudônimo de João do Cine. Nesse mesmo período, colaborava também para o Folha da Manhã até que, Múcio Borges da Fonseca, o editor geral do Jornal Pequeno finalmente o contratou como repórter geral. Naquele tempo, os jornais não eram subdivididos em cadernos por temas como cultura, economia, esportes, etc.

    “No Folha da Manhã, lembro de uma matéria polêmica que fiz sobre o serviço social que, de tanta repercussão, teve gente dizendo que a reportagem era de um outro jornalista consagrado. Fiquei lisonjeado”, recorda rindo.

    Não demorou muito para Celso ser convidado pelo respeitado Antônio Camelo, editor do Diário de Pernambuco. “Era tudo que qualquer jornalista podia desejar”. Mas, escalado como repórter policial, o jovem jornalista quase desiste da função por o chefe de polícia cismar que ele era um comunista.

    “Sumi por um tempo, mas Camelo me chamou de volta e passei a virar um caçador das celebridades que chegavam discretamente ao Recife. Eu vivia nos grande hoteis, onde todos os empregados já me conheciam, e nos transatlânticos que aportavam na cidade. Dessa forma entrevistei Malba Tahan (heterônimo de um escritor brasileiro, autor do sucesso “O Homem que Calculava”) e o almirante Gago Coutinho, o primeiro a atravessar o Atlântico de avião, em 1922″, regozija-se.

    Pouco depois, quando Fernando Chateaubriand, filho do Assis, assumiu a superintendência do Diário de Pernambuco, renovou o jornal criando um sofisticado arquivo de redação e treinou Celso para ser o responsável ali. “De vez em quando ele chamava alguém importante para fazer um demonstração e dizia assim: peça a fotografia de qualquer pessoa para ver a velocidade do sistema. Aí eu tinha de correr”.

    Até que em 1963, abriu no Recife uma sucursal do respeitado carioca “Última Hora”, do Samuel Weiner, onde antes funcionava o Correio do Povo. Celso foi contratado como copidesquista ao lado, do hoje novelista, Aguinaldo Silva, tendo Ronildo Maia Leite como um dos secretários. “Foi ali que comecei a escrever uma coluna diáriamente, extremamente radical, sobre cinema, assinando como Celso Marconi”.

    Mas, o que Celso chamava de `radical`? Ele explica que assumia uma postura de combate contra o cinema norte-americano. “Eu não amenizava. Condenava mesmo, e era em prol do cinema brasileiro. Era um postura explicitamente nacionalista”.

    Só que em 31 de abril do ano seguinte, aconteceria o golpe militar e o Última Hora no Recife foi fechado. Alguns jornalistas foram presos, circunstância que se abateu sobre Celso algum tempo depois. “Fiquei preso por três meses, encarcerado numa sala pequena com 14 pessoas. Diziam que eu era terrorista, mas não fui torturado fisicamente, só psicologicamente”.

    Quando saiu, Celso trabalhou num instituto hoje equivalente ao INSS. “Era um salário pequeno, mas era a salvação da minha vida, até que em 1966, Vladimir Calheiros me chamou para o Jornal do Commercio. Na verdade, havia uma determinação dos militares dizendo que ex-jornalistas do Última Hora não podiam ser contratados pelo DP ou JC, mas o Calheiros desobedeu”. Em 1965, antes de ir ao Commercio, Celso ressalta que o colega Fernando Spencer abria uma espaço em sua coluna no DP para ele atuar como colaborador.

    1965 foi uma ano memorável. Celso viajou ao Rio de Janeiro com Spencer para cobrir o primeiro festival internacional de cinema daquela cidade, que trouxe entre outros Ingmar Bergman e Valerio Zurlini, além da presença de medalhões brasileiros como Glauber Rocha, a quem o jovem crítico foi apresentado.

    Da época do Jornal do Commercio, Celso recorda já iniciar com uma coluna diária sobre cinema e de também ter atuado como copidesquista. Um momento marcante aconteceu em 1967 e 1968. “Fui editor do Caderno 4, uma publicação que saía no domingo sobre cultura. E Vladimir me dava total liberdade para eu fazer algo revolucionário no sentido formal. Eu tinha muito interesse por diagramação e inventava bastante nesse sentido. Eu brincava nos designes das capas com o ‘Pelé’, um contínuo do jornal e quem levava a fama da capa bonita era o titular da diagramação, o ‘Quarentinha’”, conta sorrindo.

    Claramente orgulho, Celso recorda que o Caderno 4 marcou, publicando grandes matérias sobre os jovens músicos iniciantes: “Demos duas páginas para o desconhecido Paulinho da Viola. Também passamos três dias andando pra todo lado com o Caetano Veloso na cidade, além de termos publicado no Recife o famoso manifesto tropicalista”.

    Algumas dessas e outras histórias do Celso jornalista podem ser lidas com as letras do próprio autor no livros mencionados acima, que aglomeram textos publicados no Jornal do Commercio entre 1966 e 1974, e no volume dois, outros escritos, sobretudo dos anos 1970. “Ainda quero lançar um terceiro volume sobre o cinema brasileiro nos anos 1980 e 1990 além de outro sobre o cinema estrangeiro”. Que venham então, Celso Marconi

    Além da crítica
    Se a carreira do jornalista Celso Marconi impressiona não só pela qualidade mas também pela longevidade em seus mais de 40 anos de atividade, encerrada em 1989 no Jornal do Commercio, como detalhamos acima, é também de impressionar a atuação de Celso como cineasta – que lança em breve um DVD duplo com 22 registros em audiovisual – como professor de jornalismo, como diretor do Museu da Imagem e do Som de Pernambuco (Mispe) e como programador de cinema.

    Nesta última função, começou na segunda metade dos anos 1960 a partir da iniciativa de Fernando Spencer, que criou uma sessão de arte na Soledade, com a ajuda do pároco do lugar, o monsenhor Salles. “Depois fomos para o Cine São Luiz, às 10h do sábado, e era um sucesso, sempre lotando a sala. Uma pessoa que nos ajudava dando muitas dicas de filmes era o crítico Ivan Soares. E o gerente do Grupo Severiano Ribeiro, o José Ronaldo Gomes, foi uma figura extraordinária que possibilitou tudo isso. Lembro que quando o Grupo lhe demitiu, escrevi um artigo massacrando o Severiano Ribeiro”, recorda Celso.

    Depois do São Luiz, as famosas sessões de arte migraram para o Cine Trianon e finalmente foi para o Coliseu, a maior sala da cidade, onde passavam muito filmes de Pasolini, Godard, Bergman, Fellini e outros clássicos europeus. “Houve uma época de tanto sucesso que chegamos a produzir um show com Chico Buarque dentro do Coliseu”, aponta como um momento marcante.

    Por essa época, Celso era, junto ao Grupo 8 e a Fundação Joaquim Nabuco, um dos responsáveis pelo Festival de Super 8 do Recife. Ele recorda da presença do mítico crítico Paulo Emílio Salles Gomes na cidade reclamando que os jornais locais davam duas páginas para Pasolini, com um filme em cartaz, quando o que deveria receber destaque era o festival nacional. A experiência de programador levou Celso a ser convidado a administrar o Cinema do Parque. “Foi uma fase áurea, com até 1200 pessoas por sessão”.

    Em 1980, Celso começou a atuar também como professor no curso de comunicação social da Universidade Católica de Pernambuco, onde ficou até 1994. Três anos antes, havia assumido a diretoria do Mispe onde criou a sala de vídeo Fernando Spencer e voltou a promover memoráveis sessões de arte, agora no Cine Ribeira, Centro de Convenções. “Passei por três governos no Mispe, até sair em 2003”.
    Na mesma época o jornalista editou o Suplemento Cultural do CEPE, quando resgatou seu ímpeto de designer revolucionário dos tempos do Caderno 4, no Jornal do Commercio lá pelos idos dos anos 1960. “Certa vez pus uma mulher nua na capa e depois de 14 mil exemplares rodados, fui obrigado a cancelar tudo apesar de não haver nada de apelativo na imagem”.

    Hoje, aposentado, Celso alimenta de vez em quando o seu blog (http://celsomarconi.blog.uol.com.br) com textos tão vigorosos quanto o de outros tempos. Muito embora, o que vem curtindo atualmente é a experiência no Twitter, no qual a filha cadastrou o moderno pai recentemente.

    Mais Recentes

    Publicidade

    Publicidade