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Festivais

2o Fest. Paulínia (2009) – noites 2 e 3

Altos e baixos na magia Paulínia

Por Luiz Joaquim | 12.07.2009 (domingo)

PAULÍNIA (SP) – Havia um comentário jocoso nos anos 1980 dizendo que ir a Nova Iorque e não ver o jornalista Paulo Francis (1930-1997) era o mesmo que ir ao Vaticano e não ver o Papa. A piada dá uma dimensão próxima da popularidade no Brasil, para o bem ou para o mal, que o cronista alcançou ao longos dos 26 anos que morou lá, a partir de 1971. Essa história bem particular é contado em tom amigável, mas também contundente, no documentário “Caro Francis”, que abriu a mostra competitiva, na noite de sexta-feira, do 2º Festival Paulínia de Cinema.

Dirigido pelo crítico de cinema Nelson Hoineff, o filme, como explicou o diretor em sua apresentação no Theatro Municipal, está bem traduzido em seu título. “Não quiz fazer uma biografia absoluta, mas uma carta direcionada a um amigo de 20 anos”, contou. Nesse contexto, Hoineff estruturou seu filme em diversas questões, que chamou de nós, os quais desfiava em suas entrevistas. Os nós eram pontos chaves que de certa forma determinaram o rumo da vida profissional do crítico cultural: seu abandono do trostkismo, a saída da Folha de S. Paulo, a frustração como romancista e a ação judicial imposta pela Petrobrás em função de ter acusado, no programa ‘Manhattan Connection’, a presidência da estatal de manter contas ilícitas no exterior.

De um modo geral, a idéia que fica é a de que Francis faz falta no jornalismo brasileiro. O sentimento foi explicitado na fala do político Gustavo Krause, entrevistado que Hoineff quis escutar por conta do jornalista tê-lo chamado de Jeca. De pernambuco, “Caro Francis” também dá voz a banda “Paulo Francis Vai pro Céu” e ao editor geral do Jornal Commercio, Ivanildo Sampáio, que lembra ter precisado cortar a coluna do crônista do periódico em função das reclamações dos leitores por, ora e meia, Francis falar mal dos nordestinos.

No sábado, Paulínia mostrou “Mamonas, O Doc.”, um documentário quase institucional de Cláudio Khans sobre a banda Mamonas Assassinas, da qual todos os integrantes morreram num acidente aéreo em março de 1996, após terem saído do anonimato em maio de 1995. Já nos créditos de abertura, o trabalho de Khans se anuncia direcionado aos fãs – ou seja, aos mais de 2 milhões que compraram seus álbuns naquele período. Sem levantar nenhum questionamento de teor artístico sobre a banda, o filme é deslumbrado em si mesmo com o fenômeno mercadológico que foi o Mamonas. Sua estrutura formal, com algumas animações, quer tentam ser cômica como foi o grupo, acabam por soar toscas e inapropriado. Em 2010, Khans lançará a dramatização “Mamonas: O Filme”.

DRAMATURGIA
O primeiro longa de ficção a concorrer por aqui, “O Contador de Histórias” (estreia 7 de agosto), de Luís Villaça, agradou a muitos por vários aspectos. Rodado em Portugal, Belo Horizonte e na própria Paulínia, o filme conta a história real de Roberto Carlos Ramos, nascido nos anos 1970 e que aos seis anos foi deixado na Febem pela mãe. Após um sem fim de tentativas de fuga, ganham a simpatia da pedagoga francesa Margherit Duvas (a boa portuguesa Maria de Medeiras) com quem forma uma relação de cumplicidade muito bem construída com os silêncios que Villaça determina em seu filme.

A sessão de sábado rendeu um dos momentos mais constrangedores e involuntariamente cômicos dos últimos anos no cinema brasileiro com a projeção de “Destino”, de Moacyr Góes. Recheado de equivocos (não há outro termo) de linguagem cinematográfica, o projeto pessoal de 13 anos e R$ 12 milhões de Lucélia Santos, co-produzido por Diler Trindade, apresenta a atriz como um jornalista que ao ver o fantasma de uma imigrante chinesa durante uma reportagem que faz no interior paulista, acaba por ir a China encontrar os parentes vivos dessa imagem mística. Em meio a escancarados merchandising, a trama corre por 18 anos, envolvendo três gerações ligadas por ciúmes fatais. Uma pena.

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