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Críticas

À Deriva

À Deriva flutua de olho no mercado estrangeiro

Por Luiz Joaquim | 28.07.2009 (terça-feira)

Depois de Cannes e Paulínia – filme também passa no 19° Cine Ceará nesta segunda-feira – o terceiro longa-metragem do pernambucano Heitor Dhália, “À Deriva” (Brasil, 2009), vai encarar a ponta final de seu ciclo: o público do circuito comercial do Recife, São Paulo, Rio, Minas, Brasília e Salvador. Com distribuição no Brasil pela Paramount, o filme será lançado com 40 cópias, um bom número para filme brasileiro de cunho alternativo.

O número pode ser um estímulo para o filme vir a ser exitoso na bilheteria. Afinal, aqui no Recife por exemplo, o único multiplex que não o coloca em cartaz é o do Shopping Boa Vista. Para seu possível sucesso, há também o fator ‘fácil comunicabilidade’ com o espectador, que Dhália alcançou aqui mais que nos anteriores “Nina” (2004) e “O Cheiro do Ralo” (2006).

Ao mesmo tempo, essa ‘fácil comunicabilidade’ em “À Deriva” depõe contra o próprio filme. Não por ser fácil, mas por uma opção gerneralizada pelo que seria uma espécie de ‘world movie’, um filme para ser visto em qualquer lugar do mundo suscitando as mesma emoções em seu espectador, independente de uma identidade mais marcada de seu País de origem. Não foi à toa que após a première nacional em Paulínia, mês passado, escutava-se falar pelos corredores: “parece um filme espanhol”, para, mais adiante, ouvir-se: “parece um filme italiano”. Nunca um brasileiro.

Não é por acaso também que temos no elenco um francês (Vicente Cassel como o escritor Matias) e uma norte-americana (a estonteante Camilla Belle, de “10.000 a.C.”). Dhália contou em Paulínia que pensou em Cassel quando o viu na TV, num desse programas de entrevista que circula pelas festas, respondendo em português. Como a “À Deriva” é co-produzido pela brasileira O2 e a européia Focus, o convite foi feito por lá e Cassel, para surpresa do diretor, aceitou.

Apesar de oferecer um charme ao filme (além de sua ótima performance) nada mais justifica a presença de Cassel para co-protagonizar o filme, ao lado da menina Laura Neiva (como Filipa, filha de Matias). À propósito, Neiva, 16 anos, foi encontrada por Heitor pelo site de relacionamentos Orkut. Ela recusou on-line o pedido para participar do filme por duas vezes, e só aceitou quando o casting da produção entrou em contato com sua mãe.

Neiva é linda nas inseguranças próprias da idade que coloca em seu personagem. E “À Deriva” olha para esse desabrochar quase que por toda sua duração. Ela está veraneando com a família que, além de Matias, conta com a mãe (Débora Bloch) e uma irmã mais nova e um irmão caçula (ótimo elenco infantil). Lá na paradisíaca Búzio (RJ), Filipa aos poucos vai ficando perturbada quando descobre a traição de seu pai com uma gringa sensual, na mesma medida em que vai confrontado suas afirmações como uma mulher pela premente perda da virgindade.

Filme não é um biografia, mas muitas das experiências na tela são de lembranças de Dhália. É um trabalho que busca chamar a atenção para o amadurecimento próprio dos adolescentes que têm os pais divorciados, particularmente num clima tenso. E “À Deriva” tem méritos nesse campo, mas perde (ou deixou de ganhar) força quando não assume uma identidade com a qual o brasileiro se veja na tela.

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