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Críticas

Há Tanto Tempo que Te Amo

Redenção que dilacera

Por Luiz Joaquim | 25.07.2009 (sábado)

A primeira imagem a surgir em “Há Tanto Tempo que Te Amo” (Il Y a Longtemps que Je T’aime, Fra., 2008), estréia de Philippe Claudel na direção, em cartaz no Cinema da Fundação (Recife), é o plano fechado no rosto frio e duro da atriz Kristin Scott Thomas. Essa abertura, com a tensão contida que ela desenha na face de sua personagem, Juliette, é essencialmente a mesma que ela irá carregar ao longo da projeção. É a mesma que deixará, por muito tempo, o espectador intrigado para entender o que esconde aquele olhar distante e angustiado.

Claudel vai nos respondendo aos poucos. Da mesma forma que Juliette vai entrando na vida da irmã mais nova, Léa (Elsa Zylberstein), que reencontra no aeroporto ainda na abertura do filme e a quem não via há mais de 15 anos, Juliette vai entrando na nossa mente.

Léa, na verdade, foi educado pelos pais a esquecer Juliette por uma razão existe mas não sabemos. Ele nos surge assim, como uma mulher sem passado nem presente. Juliette não é como o Travis e sua amnésia, também resgatado por um irmão em “Paris, Texas”. O problema com Juliette é exatamente a consciência, excessiva que tem de sua própria história.

O filme faz o oposto com Léa. Logo logo entendemos que a caçula é doutura em literatura, casada, e abriga duas filhas vietnamitas adotivas, além do sogro emudecido em virtude de um AVC. Léa assume ser boa a vida que leva, mas nada disso faz muda a expressão no rosto de Juliette. Falar mais detalhes sobre a protagonista seria errado.

Já Kristin Scott Thomas é dona absoluta de seu personagem. Ela soma aqui, à história do cinema, mais uma performance concentrada no domínio de expressões perfeitas da emoçõe particularmente pelo seu rosto. Há um misto de ausência e profundidade em seu olhar que deixam o espectador no escuro, e com medo desse escuro.

O que se pode dizer sobre “Há Tanto Tempo que Te Amo” é que temos aqui um extremamente bem roteirizado drama sobre culpa e redenção. Antes de, a certa altura, Juliette desabar de emoção narrando detalhes de seu passado, Claudel chega a dar dicas do assunto que lhe é caro aqui, principalmente quando mostra Léa discutindo com seus alunos sobre culpa e redenção.

Seu conselho, aos berros, para os alunos assustados, é que parem de tomar a literatura como referência para a realidade, pois nada é tão grave, em qualquer arte, como só a vida em si pode ser.

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