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Festivais

19o Cine Ceará (2009) – noite 6

Baião embala o Cine Ceará

Por Luiz Joaquim | 03.08.2009 (segunda-feira)

FORTALEZA (CE) – Depois de acirrados debates e seminários sobre a trajetório do lider revolucionário Ernesto Che Guevara – revisto aqui no 19º Cine Ceará em programação com filmes de diversos enfoques sobre sua trajetória e legado -, à noite de domingo apresentou beleza e leveza ao fortalezense que cantava e aplaudia em cena aberta durante a projeção de “O Homem que Engarrafava Núvens” na noite de domingo. O documentário de Lírio Ferreira sobre o letrista e compositor Humberto Teixeira (1915-1979) já está encerrando sua carreira em festivais e em breve deve alcançar o circuito comercial. Carreira que iniciou em setembro de 2008 no Festival do Rio e só faz se consolidar mais e melhor a cada nova mostra.

A exibição no Ceará só reforçou a potência do novo filme de Lírio que, até domingo era inquestionavelmente o melhor longa em competição – tendo seu mais forte concorrente exibido ontem: “À Deriva”, de outro pernambucano, Heitor Dhalia. Mas, “O Homem…”, produzido pela atriz Denise Dumont, filha de Teixeira, parece ser o mais propenso a ganhar o troféu Mucuripe. Parece ser uma unanimidade, sem ser burra, no aspecto de sua sofisticação e consistência tanto em conteúdo, quanto de edição.

Lírio causa ótima impressão com a inserção de um rico acervo de imagens de arquivo para situar o espectador no contexto social e cultural em que surgiu a figura de Humberto Teixeira. Homem fino e erudito que ganhou a alcunha de Dr. do Baião por Luiz Gonzaga, seu parceiro eternizado na interpretação de tantas músicas, entre elas o ‘hino’ “Asa Branca”. Domingo, à propósito, completava-se 20 anos da morte do Rei do Baibão.

O filme, na verdade, é um projeto pessoal de Dumont, que, desde há morte do pai, não conseguia falar sobre ele, com quem manteve um relacionamente endurecido em vida, aparentemente em função de sua mãe, a atriz da Atlântida Margarida Pólis Teixeira (Margot Bittencourt), ter largado o letrista. No próprio filme, Dumont depõe sua impressão de que ela sentia-se como um lembrança, para Humberto, de algo que ele queria esquecer.

Lírio está cercado de craques aqui – desenho da trilha sonora (Guto Graça Mello), fotografia (Walter Carvalho) e design (Gringo Cardia) – e soube transitar com elegância e delicadeza da história para o presente, com depoimentos e performances que enchem os olhos e ouvidos, indo de Caetano Veloso, Chico Buarque, Gil, Betânia, Gal, passando por David Byrne e chegando a populares do Nordeste.

Se “Cartola”, doc anterior de Lírio (com Hilton Lacerda), provocou sensação com o público, “O Homem…” tem tudo para superá-lo, pois parece imbatível quando apresenta-se autêntico e elegante na representação da cultura brasileira.

Antes do longa, o Cine Ceará apresentou quatro curtas: o problemático “Vida Vertiginosa”, de Luís Carlos Lacerda (Bigode), a videoarte “Bolívia te Extraño”, de Dellani Lima, e o forte “Os Sapatos de Aristeu”, de Renê Guerra. Mas, indubtavelmente, o paraibano “Sweet Karolynne”, daLuzineide Ana Bárbara Ramos, ganhou à noite.

O documentário acompanha os dias de uma menina em torno dos sete anos e seu cotidiano feliz ao lado do bicho de estimação, o pintinho Jarbas. Três meses depois, Jarbas aparece como um galo garboso, que logo depois vai para a panela. Nessa contexto, Ana Bárbara deixa transparecer uma relação interessante aí de afeto e adequação de perda do objeto de afeto pela qual a garota vive. E vive bem, essa menina que impressiona, linda em sua inocência e coerência. Ao mesmo tempo, a garota nos mostra sua casa repleta de posteres de Elvis Presley para só depois entendermos que seu pai faz cover do cantor em shows na Paraíba. Ela não apenas sabe que Elvis já morreu (assim como Jarbas), apesar de seu pai transformar-se nele diante de si, mas também explica isso ao espectador. Inesquecível é a imagem dela interpretando lindamente “Love Me Tender”, a seu modo, claro.

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