2° Fest. Triunfo (2009) – impressões
Triunfo: entre acertos e tentativas
Por Luiz Joaquim | 10.08.2009 (segunda-feira)
TRIUNFO (PE) – A coordenação do 2º Festival de Cinema de Triunfo, encerrado na noite de sexta-feira, trabalhou pesado para que o evento fosse exitôso, mas alguns problemas técnicos nesta edição mostraram que não é possível alcançar o sucesso num festival de cinema sem dois elementos primordiais para um evento desse gênero: bom equipamento de projeção e a participação do público.
Outros aspectos são fundamentais para reluzir o brilho de qualquer festival de cinema, entre eles estão a programação de filmes e a infra-estrutura com a logística que irá receber os realizadores. Nesses dois quesitos, a Fundação do Patrimônio Histórico e Artísticos de Pernambuco (Fundarpe), que produz o festival, parece estar no caminho certo para atingir um resultado interessante.
A programação de títulos da primeira para esta segunda edição cresceu a olhos vistos, em quantidade e qualidade, mesmo que quase sem oferecer novidades dentro do longo horizonte de festivais de cinema no Brasil. E a equipe da produção do Festival de Triunfo também merece mérito pela boa prestação de serviço quando prontamente atendiam seus convidados ao serem solicitados.
Entretanto, uma ponta da gangorra não funciona se a outra estiver vazia. E o vazio que não fez o brinquedo funcionar direito foi a precária condição de projeção pela qual sofreram os títulos em competição no Sertão do Pajéu, em particular aqueles em 35mm.
O governo do Estado tem um sofisticado equipamento de projeção em 35mm e processador de som Dolby DTS (o mesmo usado na circuito dos mutilplex Cinemark) já licitado, com valor em torno de 150 mil Reais, que não pôde ser instalado a tempo no Cineteatro Guarany para o Festival de Triunfo. Sendo assim, outro projetor, com muito tempo de uso, foi utilizado em substituição, mostrando-se incapaz de funcionar já na segunda-feira passada, segundo dia do evento. Com isso, foi transferida a sessão do longa-metragem “Crítico”, de Kleber Mendonça Filho, para três dias depois.
Com o projetor quebrado, um outro, móvel e com menor pontencia de luminosidade (inadequada) para o tamanho do cineateatro, foi providenciado, adiando em um dia a competitiva de 35mm. Infelizmente, a solução, possível pelo momento, também não foi satisfatória uma vez que os filmes eram prejudicados em sua projeção escura e eventualmente interrompidas para novos ajustes no som a serem feitos.
Como na sessão do premiado “Superbarroco”, de Renata Pinheiro, quinta-feira passada, quando exibia como se o som sofresse a interferência de um helicóptero dentro da sala, ou de um áudio transmitido debaixo d`água, isso quando não estava mudo. Ou ainda na sessão de “Dez Elefantes”, de Eva Randolph, que teve a lâmpada do projetor queimada já nos créditos de abertura.
Na mesma noite, a presidente da Fundarpe, Luciana Azevedo, quando lançava o programa Cine Mais Cultura, pediu desculpas pelo “desrespeito ao público”, salientado o processo de aprendizagem pelo qual passava o Festival, e com o qual precisava amadurecer. Um outro personagem nessa história, o realizador, também merecia atenção, uma vez que a razão de sua presença no evento é a de compartilhar seu trabalho da melhor maneira com o público e, para isso, conta com o empenho do festival.
Festival de Triunfo busca identidade
Um outro ponto a observar no 2º Festival de Cinema de Triunfo são os diários shows musicais que acontecem em palco montado entre o belo Cineteatro Guarany e o Lago João Barbosa, cartão postal da cidade. Acontecendo colado ao encerramento do último filme projetado, a produção não economizou nas atrações, montando um programa musical bom não apenas para Triunfo mas funcional para qualquer cidade.
Quem estava na noite de quarta-feira pôde conferir isso com a boa performance da Bande Ciné seguida pela apresentação de DJ Dolores. A questão é que, quem estava nessa noite era um grupo não maior que 40 pessoas, sendo este quase que inteiramente de convidados do Festival. É como se própria cidade de Triunfo não quisesse participar da festa, ou não entendesse que há ali uma festa, dando à comemoração um aspecto muito particular pró-festival e não pró-população local.
Já as sessões no Guarany, com pouco mais de 100 cadeiras, são bem frequentadas, em sua maioria por crianças com não mais de dez anos, o que é ótimo do ponto de vista de formação audiovisual. Mas, o feitiço pode virar contra o feiticeiro se as regras não estiverem bem definidas na programação.
A curadoria do festival até dividiu por horário as sessões infantis das sessões adultas, entretanto, em decorrência dos atrasos causados pelos problemas técnicos, sessões aconteceram geminadas em alguns dias. Resultado: crianças presenciaram a exibição de curtas como “Com as Próprias Mãos”, de Aly Muritiba, em que a furiosa mãe de uma criança sequestrada tortura o sequestrador, batendo prego em sua barriga para depois tocar fogo no bandido e em si própria.
IDENTIDADE
Triunfo também promoveu , antes da premiação na sexta-feira, debate sobre “Os Novos Rumos do Cinema Brasileiro”, com a presença de Cynthia Falcão (da ABD-PE), Isabela Cribari (Diretora de Cultura da Fundaj), Rosemberg Cariry (cineasta presidente do CBC), a Saskia Sá (cine-educadora) , Severino Dadá (montador) e Solange Lima (da ABD nacional).
É um tema amplo que sempre merece foco, e por ele percebe-se a seriedade com a qual a Fundarpe quer que seja identificado o Festival de Cinema de Triunfo. E uma identidade consistente seria exatamente o ponto determinante em um festival nacional, em função de um sem-número de eventos semelhantes pipocando Brasil adentro.
Com a criação, na edição anterior, da “Federação Pernambucana de Cineclubes”, hoje com 19 cineclubes associados, e, nesta edição com o lançamento do Cine Mais Cultura, Triunfo parece moldar-se como ponto de encontro para as discussão da categoria cineclubista. A terceira edição em 2010, nesse sentido, pode ser determinante para o Festival uma vez que sua pauta pode vir a ser montada em função da identidade que queira construir.
Não há dúvida sobre o esforço da Fundarpe em instrumentalizar a população no interior do Estado com cinema – campo estratégico também na economia e política-, e não se duvida também que é natural a segunda edição de um festival ainda titubear nos resultados. Nesse sentido, a coordenação do Festival de Triunfo, na figura de Carla Francine, poderia trocar idéias com a produtora Raquel Hallack, a partir do exemplar arcabouço de produção que ela dirige na Mostra de Cinema deTiradentes (MG), em 2009 na 12ª edição.
A mostra mineira é, talvez, a irmã mais experiente e eficaz do que pode vir a ser Triunfo no futuro. O evento acontece em janeiro, também numa cidade interiorana e turística, a três horas de viagem da capital de Minas Gerais. Hoje já é consagrada não só pela seleção curatorial, como pela presença maciça da população, lotando os 700 lugares do cinema, e ainda pelo alto nível dos debates em torno do cinema contemporâneo brasileiro.
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