O Contador de Histórias
Revendo o conceito de irrecuperável
Por Luiz Joaquim | 07.08.2009 (sexta-feira)
O que há de cinematograficamente mais interessante no novo filme “O Contador de Histórias” (Brasil, 2009) do diretor Luís Villaça (de “Cristina Quer Casar”) está na sua capacidade de transitar dentro do mesmo filme pelos diferentes gêneros narrativos que o cinema tem a oferecer.
O filme dramatiza a história real do mineiro Roberto Carlos Ramos, que nos anos 1970, aos seis anos, foi ingenuamente deixado pela mãe na Febem de Belo Horizonte, onde ela acreditava ali estar dando um futuro a seu filho. Depois de um sem fim de tentativas de fugas e retornos, Roberto Carlos é dado como irrecuperével pela instituição até que surge a pedagoga francesa Margherit (a ótima atriz portuguesa Maria de Medeiros, de “Pulp Fiction”), que o resgata por compreendê-lo como a criança assusta que ele é.
A brincadeira séria com os gêneros do cinema, mencionados no primeiro parágrafo, aparecem logo no início do filme quando Roberto Carlos relembra para Margherit sua incursão na marginalidade. Villaça dá um tom cômico para as lembranças do molequinho RC que flertam com a estética psicodélica do início dos anos 1970 de forma que o primeiro assalto a banco do menino lembra um videoclipe dos Jackson Five, sendo RC o próprio Michael Jackson. O melhor é que essa propóstca casa muito bem com o tom fabuloso de contar uma história do personagem. O mesmo tom que o viria a tornar mais tarde um “contador de histórias” consagrado também no exterior.
Depois do psicodelismo, temos um dos melhores momentos do filme, com longos silêncios e confrontos entre RC e Margherit, que funcionam mais que adequadamento para o espectador entender como realmente pode ser construído o que se chama de cumplicidade – e daí subtrair seus benefícios em prol da recuperação da deliquência infantil. É um filme exemplar, sem ser professoral. Ponto para Villaça. Parabéns para Roberto Carlos Ramos.
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