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Críticas

Bem-vindo (2009)

Nadando contra a Europa

Por Luiz Joaquim | 25.09.2009 (sexta-feira)

Embora já tenha meia dúzia de filmes dirigidos, e atuado em outras duas dezenas como engenheiro de som, o francês Philippe Lioret não é um cineasta muito conhecido por aqui. Mas foi exatamente esta experiência que lhe deu competência suficiente para realizar com correção “Bem-Vindo” (Welcome, Fra., 2009), exibindo hoje na Sessão de Arte do UCI/Ribeiro (no Recife). A ‘correção’ diz respeito a capacidade de contar uma história de forma absolutamente sedutora e envolvente. Esse tipo de sedução, no cinema, prescinde, claro, de um arrojado domínio de sua linguagem. E a julgar pelo grau de envolvimento (sem pieguísmo) do espectador com os personagens ao final desta história, pode-se dizer sim que Lioret é um extremo conhecedor dessa linguagem (o roteiro também é co-escrito por ele). Não à toa, “Bem-Vindo” foi contemplado com dois prêmios no último Festival de Berlim.

Em seu filme não falta também o principal tema social da atualidade na França, o destino de um sem fim de imigrantes que chegam por lá – e que o cinema francês vem retratando de forma quase obsessiva, mas sempre elegante. No caso de “Bem-Vindo”, temos duas histórias de amor correndo paralelas, tendo um situação política como pano de fundo. O entrelaçamento destes três elementos é tão bem amarrado que fica difícil dizer qual a que lhe marca com mais força.

De qualquer forma é a história do adolescente iraquiano Bilal (Firat Ayverdi) que leva o filme. Depois de vir de seu país até a França numa caminhada que durou três meses, Bilal tenta atravessar a fronteira em direção a Inglaterra apenas para encontrar sua namorada, recém-residindo lá com sua família. Depois de uma tentativa frustrada e sem dinheiro, o jovem decide que irá atravessar o Canal da Mancha à nado. Ou seja, nadar por mais de 10 horas ininterrúptas pelos mais de 500 quilômetros que ligam Calais (FR) a Dover (GB), numa água a 6ø centígrados, sob uma violenta correnteza, com návios petroleiros a sua frente. O detalhe é que Bilal não sabe nadar.

É quando o jovem encontra Simon (Vincent Lindon, ótimo), professor de natação que tem sua própria história de amor para superar. Separado há oito meses, contra sua vontade, da esposa, e em processo legal de divórcio, Simon fica comovido com a dedicação de Bilal e, quando se dá conta, já está envolvido o suficiente com o projeto do garoto a ponto de chamar a atenção da polícia francesa, que define como crime quem acolhe imigrante irregular por lá.

Em vários momentos Lioret deixa claro o quão ainda é desarticulada e confusa a questão da imigração na Europa. Por ser um problema que se intensificou há, relativamente, pouco tempo (de algumas poucas décadas). Chama a atenção também para a postura do povo francês para o assunto. Num dos momentos fortes, a ex-esposa de Simon reclama com veemência com o gerente do “Super” por não deixar mendigos entrarem ali para comprar sabonete, depois arrota valores morais para Simon exigindo dele uma postura política. Mas, quando descobre, depois, que Simon deu abrigo a dois imigranets ilegais, os valores morais da ex-esposa vão por água abaixo. É o retrato perfeito, numa mesma pessoa, da racionalidade social civilizada mas com uma individualismo potente que não abre mão de seu conforto. É a Europa hoje.

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