33a Mostra de SP (2009) 27.out
Cânones do cinema encantam na Mostra de SP
Por Luiz Joaquim | 28.10.2009 (quarta-feira)
SÃO PAULO (SP) – Só na ontem (terça, 27.out), esta 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo ofereceu mais de 100 opções de filmes do seu cardápio de programação, divididos entre 25 locais de projecão. Mas não havia sessão mais significativa que a das 19h30 no Cine Bombril 1, no Conjunto Nacional, avenida Paulista. Passava lá, com apresentação do diretor, o mais recente filme do grego Theo Angelopoulos: “A Poeira do Tempo” (I Skoni Tou Hronou, 2008), segundo trabalho de uma trilogia iniciada em 2004 com “O Vale dos Lamentos”.
No novo filme, como em “Um Olhar a Cada Dia” (1995), Angelopoulos usa um diretor de cinema (William Dafoe) e seu projeto cinematográfico para rever a segunda metade do século 20. Observa o final da Segunda Guerra, pensa na queda do Muro de Berlim e reflete sobre a virada do milênio. Interliga tudo isso sutilmente pela influência na vida de três gerações: a do cineastas, a de sua mãe (Irene Jacob) e de sua jovem filha (Tiziana Pfiffiner). Entrevista com o diretor será publicada aqui em breve.
Ainda ontem, a impressa teve a oportunidade de ver “Singularidades de Uma Rapariga Loira” (2009), de outro veterano: Manoel de Oliveira, cineasta português com 100 anos completos em 2008. Oliveira é um caso único no cinema. Não se discute. Não apenas pela longevidade, mas pelo carinho e cuidado com a imagem e com a História (com ‘H’ maiúsculo). Um reflexo claro de quem a vivenciou, e não apenas a leu em livros ou noticiários.
Não é por acaso que o diretor sempre insere informações quase educativas sobre a fonte de seu enredo. Em “Singularidades…” Eça de Queirós é essa fonte. Baseado em um de seus contos, o filme mostra, em econômicos e bem aproveitados 63 minutos, Macário (Ricardo Trêpa), que vai trabalhar com seu tio e, do escritório, avista um moça loira na janela do prédio em frente. A visão e esfuziante e ele se apaixona imediatamente. Segue-se um conflito entre seu tio e a intenção de Macário desposar a moça Luisa (Catarina Wallenstein).
Num dos momentos chaves aqui, quano Luisa surge pela primeira vez na janela, Oliveira reafirma sua maturidade como cineasta. Ele faz uma composição visual como uma pintura clássica, pela qual o silêncio impera, dando espaço ao estado de estupor de Macário diante da beleza misteriosa de Luísa. É o nascimento do amor, filmado. Uma obra-prima.
Outro filme já celebrado mundialmente, e exibido aqui, foi o britânico “Sedução” (An Education), de Lone Scherfig, cuja protagonista adolescente (Carrey Mulligan) nos anos 1960 vai desistindo de sua educação promissora em função de um romance com um homem mais velho e experiente na vida. Apesar da ótima atuação de Mulligan (já se fala em Oscar 2010), filme, como um todo, soa moralista.
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