X

0 Comentários

Festivais

33o Mostra SP (2009) – 25out

A estrada como uma alegoria da vida

Por Luiz Joaquim | 26.10.2009 (segunda-feira)

SÃO PAULO (SP) – Concorridíssima a sessão de gala – com presença da equipe – de “Hotel Atlântico”, novíssimo filme de Suzana Amaral, na noite de domingo nesta 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O filme é mais um representante da muito interessante safra de longas-metragens brasileiros que chamará a atenção em 2010.

Após a sessão, sob aos aplausos e pedido de Bravo da platéia paulistana, Suzana emocionada não conseguia desenvolver bem seu discurso. “Foram sete anos captando recursos para o filme acontecer e eu sabia que um dia conseguiríamos estar aqui”, desabafou.

É um filme estranho, esse “Hotel Atlântico”, como definiu sua diretora no debate. Filme que o espectador leva para casa e depois o “desembrulha” para dialogar com ele. É certamente um trabalho muito diferente dos outros realizados por Suzana, que será sempre lembrada como uma interprete das sensações femininas no cinema, principalmente pelo seu clássico eterno “A Hora da Estrela” (1985).

Baseado no livro de João Gilberto Noll, agora Suzana mostra o mundo lido pelos atos impessados de um homem. Um ator desempregado (Júlio Andrade) que já inicia o enredo em transito, em movimento. Fazendo de um hotel, chamado Atlântico, o ponto de partida para uma viagem sem destino e sem preocupações de causa e efeito.

Suzana não dá informações prévias sobre a razão da jornada. E nem interessa, pois a experiência que o percursso vai lhe oferecer é o que vale. Ainda no hotel, o ator assume seu ato de covardia. Ou coragem, dependendo do ponto de vista. “Você é um desocupado!”, grita ele para seu reflexo no espelho.

Covardia porque ele resolve não ficar e simplesmente interpretar um louco, ou seja, vestir uma máscara social que o adeque ao mundo, o que todos nós fazemos e não é fácil. E é corajoso exatamente pelo mesmo motivo, pois sua jornada não lhe oferece nenhuma segurança, apenas experimentar o que a vida pode lhe oferecer, e isso significa uma surpresa (boa e ruim) atrás da outra.

É um roteiro interessante, o do filme e o dessa jornada. No trajeto, num ônibus para Florianópolis, o personagem (sem nome) encontra o estrangeiro, na pele de uma polonesa deslumbramente e deprimida (Lorena Lobato). Na estrada, encontra a violência numa carona. Confronta a religião e encontra a fraternidade num sacristão (Gero Camilo), e o trabalho braçal e desapego material em sua empregada. Depois encara a política pela filha de um prefeitável (Mariana Ximenes), e volta a fletar com a esperança e renovação pela amizade com o enfermeiro Sebastião (João Miguel).

Fica clara a intenção de Suzana, adépta do budismo, em querer sugerir a jornada como a vida em si, sendo o hotel o útero onde a vida é gerada (há sexo no hotel). É um percursso cheio de incongruências e surpresas. Sem explicações e sem lógica. Curioso observar a opção pelo bom Andrade protagonizando. É quase uma extensão do ‘cão sem dono’ que foi no filme de Beto Brant. E de João Miguel, outra extensão de seu retirante em “Cinema, Aspirinas e Urubus”.

Mais Recentes

Publicidade

Publicidade