Alô, Alô, Terezinha !
Hoineff distorce o espírito do Velho Guerreiro
Por Luiz Joaquim | 30.10.2009 (sexta-feira)
Não havia dúvidas em maio último, no 13º Cine-PE, que o prêmio do público iria para “Alô, Alô Terezinha” (Brasil, 2009), documentário de Nelson Hoineff, feito a partir da história e legado que Abelardo Barbosa, o Chacrinha, deixou para a mídia brasileira. Filme entra em cartaz hoje e enfrenta seu maior desafio: os multi-concorrentes hollywoodianos dos multiplex.
Apesar de ser um terreno menos hospitaleiro que um festival de cinema brasileiro, talvez Hoineff também ganhe essa batalha nos shoppings, uma vez que seu filme dá ao espectador mediano o que esse espectador mediano quer. O riso fácil. Nada contra o riso fácil, desde que a causa geradora desse riso não promova uma consequência danosa ao espectador, como o preconceito ou o escárnio.
A justificativa de Hoineff para o tom constantemente jocoso de “Alô, Alô…” se baseia na descontração própria de seu cinebiografado. O detalhe é que Chacrinha no filme é quase um coadjuvante. Hoineff, jornalista respeitado na TV, está mais interessado em mostrar a influência que o Velho Guerreiro deixou na vida de quem conviveu com ele na televisão (calouros, artistas, profissionais da TV, etc.).
Estão lá Fábio Jr., Wanderley Cardoso, Roberto Carlos, The Fevers, Aguinaldo Timótio, Biafra, Nelson Ned e outros. Além de Elke Maravilha, produtores e ajudantes como My Boy, Russo e, claro, as chacretes.
A idéia de se apoiar no humor ácido de Chacrinha para dar cor a seu doc. seria até interessante se entre o tempo de ação do apresentador e o tempo de hoje não houvesse um intervalo com cerca de três décadas. São épocas distintas, parâmetros distintos.
E, mesmo que o contexto cultual fosse o mesmo, é fácil enxergar uma opção ética diferente entre o programa de TV e o doc. de Hoineff. Chacrinha usava do humor explícito como expediente, mas não uma dissimulada intensão para ex(trair) seu entrevistado.
Num dos momentos mais constragedores de “Alô, Alô…”, vemos a chacrete Índia Potira, uma senhora, dançar pelada na fonte de uma praça. Hoineff defende-se: “ela que sugeriu”. É um argumento frágil. E se ela tivesse sugerido o suicídio?
Noutro momento ele ultrapassa um cuidado ético. Na verdade, é uma questão muito acima desse preceito. Quando o cineasta coloca dois ex-calouros gagos cantando “Gago Apaixonado”, de Noel Rosa, soa como a exploração da graça em detrimento da imagem do entrevistado, e não como um acrescimo de informação para delinear uma representação do Chacrinha, que apesar de escrachado em tudo, era também cuidadoso com seus calouros e protetor de suas chacretes. Em outras palavras, Chacrinha ria com seus calouros, Hoineff ri de seus entrevistados.
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