Distrito 9
ET quer ir para casa
Por Luiz Joaquim | 16.10.2009 (sexta-feira)
Em 1951 um filme chamado “O Dia em Que a Terra Parou”, de Robert Wise, contava a história de uma nave alienígena que pousava nos EUA e anunciava o extermínio dos humanos caso seus líderes não desistissem de fazer guerras. A mensagem era assumida, contra o comunismo e a Guerra Fria. 58 anos depois, “Distrito 9” (District 9, EUA, NZel., 2009), em cartaz hoje, mostra uma colossal nave espacial quebrada há 20 anos, sobre uma favela de Joanesburgo, capital da África do Sul. Nestas duas décadas, milhares de alienígenas, chamados pejorativamente de camarões, foram confinados à favela que dá título ao filme, sofrendo violentamente ofensa e humilhações das autoridades africanas por eles “não conhecerem nem respeitarem o conceito de propriedade” e por serem feios (pelo conceito dos brancos e dos negros), diferentes, extraterrestres enfim.
Apesar de Neil Blomkamp não explicitar seu discurso contra o preconceito pela diferença entre as raças, “Distrito 9” não deixa dúvida que está interessado em fazer o espectador refletir, num segundo plano, sobre uma desenfreada corrida do mundo por poderio armamentista, e, num primeiríssimo plano, fazer refletir sobre a prepotência graças à ignorância do desconhecido. O fato da trama acontecer na África do Sul, casa do apartheid por anos – dá uma cor mais viva ao drama vivido pelos “camarões”.
Desenvolvidos pelos profissionais do produtor Peter Jackson, o realismo dos alienígenas está suficientemente balanceado para não distrair a atenção do espectador pelo seu primor técnico; mas sim para o primor técnico passar despercebido em função da tensão humana da situação. Os alienígenas não são coitadinhos. Eles têm armas potentes, com tecnologia biomecânica que só permitem serem ativadas por eles. E apesar de não serem usadas, já é suficiente para sociólogos dizerem que onde tem armas têm violência, logo, uma ameaça.
A propósito do depoimento de especialistas sobre a presença e efeito dos indesejados extraterrestres, é bom ver um filme com um poder de concisão competente para resumir uma história de 20 anos em poucos minutos. O recurso é o de um tele-documentário. As imagens iniciais não são sobre os alienígenas, mas sobre a transformação que sofreu Wikus Van de Merve (Sharlto Copley), o responsável para coordenar o despejo dos milhares de camarões para o Distrito 10. Um lugar de piores condições, num deserto distante da população sul-africana.
Apesar de uma conclusão fofa, com perseguição e tiroteio desenfreado (lembrando o game para o qual inicialmente seria feito o filme), “Distrito 9” agrada pela inventividade para falar de um problema tão antigo e nos lembrar que, às vezes, é preciso mesmo experimentar o sofrimento para compreendê-lo.
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