Festival do Rio 2009 (06 out)
Arriaga apresenta mais um quebra-cabeça
Por Luiz Joaquim | 07.10.2009 (quarta-feira)
RIO DE JANEIRO (RJ) – Finda a competição da Premiere Brasil aqui no Festival do Rio, a atenção concentra-se em alguns títulos medalhões do estrangeiro, daqueles que o cinéfilo (quase todo o espectador do Festival) vende a alma para assistir. Um bastante celebrado por aqui foi “The Burning Plain”, estrea na direção de Guillermo Arriaga, celebrado pelos roteiros elípticos de “Babel”, “21 Gramas”, “Três Enterros” e “Amores Brutos”.
Em seu debut como diretor, Arriaga mantém a mesma estrutura matemática de contar trechos de distintas histórias aos pedaços que ao longo da projeção vão fazendo um sentido único, interligando todos os seus personagens. Na nova brincadeira, Arriaga manipula o tempo, fazendo o passado e o presente correrem paralelo na nossa frente.
Numa história, personagem de Kim Bassinger é a esposa de um caminhoneiro. Ela o trai com o mexicano feito por Joaquim de Almeida. Noutra, Charlize Theron vive a funcionária de um restaurante fino, que pratica automutilação pra mitigar sua culpa do passado.
É uma estrutra quase matemática, essa do Arriaga, que, como já foi dito, começa a ganhar o peso e o cansaço da repetição, por mais bem atuada, produzida e escrita que seja. O filme vira assim, um quebra-cabeça vivo que, ao ser montado pelo espectador antes do encerramento do filme, fragiliza-se.
Agora… se Arriaga queria provar que não precisa de Iñárritu para fazer filmes, ou que o diretor mexicano sempre foi apenas um acessório para seus roteiros, então ele provou bem.
Fora dos medalhões, o suíço “Um Outro Homem” (Un Autre Homme), de Lionel Baier, agradou a quem se arriscou conhecê-lo. É um filme corajoso pela tema, que poderia conduzi-lo ao trivial ou à facilidade do jocoso. Ao contrário, o filme, em bela fotografia P&B, toca com consistência em aspectos humanos caros a qualquer um.
Trata-se da trajetório do jornalista François (Robin Harsch), que se muda com a namorada para um município minúsculo da Suíça, onde só existe uma sala de cinema e um jornal. Lá, passa a fazer críticas sem saber nada sobre filmes. A solução que encontra e copiar textos de um revista conceituada.
Ao conhecer a crítica Rosa (Natacha Khoutchomov), de um jornal da metrópole, fica fascinado com seu conhecimento cinematográfico e logo se apaixona, iniciando um malvado jogo erótico entre os dois. Acontece que “Um Outro Homem” mostra através de Rosa, profissional pedante e cética, o quão pode ser equivocada um trabalho crítico, e o quanto a personalidade desse profissional interfere em tudo o que se deriva de sua vida, seja no campo sentimental ou profissional. Fascinante e envolvente.
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