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Festival do Rio 2009 (5 out)

A origem do mal

Por Luiz Joaquim | 06.10.2009 (terça-feira)

RIO DE JANEIRO (RJ) – Ao final da sessão da Palma de Ouro 2009, “A Fita Branca” (Das Weisse Band), de Michael Haneke, no Festival do Rio, o público carioca que lotava a sala 1 do Espaço de Cinema em Botafogo, não se conteve: aplaudiu. Eram aplausos titubiantes. Desejosos de registrar seu contentamento, mas confusos pelo impacto recém recebido.

Aplausos de quem acabou de se deparar com uma obra refinada em sua linguagem, suscitando que as informações ali expostas têm algo de muito importante, mas tão mistériosas na forma como colocadas a ponto de incomodar apenas pela sugestão e quase nunca pelo explícito.

Haneke, talvez o mais interessante cineasta europeu vivo, nós dá um retrato assustador de um vilarejo no interior da Alemanha pré-Primeira Guerra Mundial. Mostra a inflexibilidade de pais que educam os filhos sob a rigidez de impiedosa violência ao menor desvio, sob a alegação de mantê-los o mais puros possível. Contrasta com isso o desvio de caráter dos próprios adultos, em particular no que diz respeito ao sexo.

Sucede que nesse ambiente, acidentes inexplicáveis começam a acontecer, com direito a crianças sequestradas e torturadas, na mesma medida em que os adultos vão ficando mais e mais desorientados, sem compreender a gravidade que os cerca, ou a nova realidade da qual tiveram responsabiliade em criar.

Dizer que violência gera violência é um resumo muito rasteiro para definir “A Fita Branca”. Filmado num preto e branco lúgrubre, a pouca luz insurge que na escuridão assombra. Combinada com o silêncio respeitos imposto pelos pais, as figuras infantins ganham um ar quase fantasmagórico, sugerindo dali uma futura geração de adultos perturbados com a disciplina, a rigidez moral e, o mais grave, com a pureza. Não à toa, o filme foi apontado em Cannes como uma espécie de indício germinal dos ideais nazistas, aplicados na 2ª Guerra, para a pureza da raça ariana.

Outro filme político na programação, esse explícito no discurso, foi “A Doutrina do Choque” (The Shock Doctrine), que esteve em Berlim neste ano. De Mat Whitercross e Michael Winterbotton (“A Festa Nunca Termina” e “Caminhos para Guantânamo”), o documentário é uma adequação audiovisual para o livro homônimo de Naomi Klein, para o conceito de capitalismo catástrofe. Ela própria pontua a narrativa numa espécie de aula para um auditório atento, enquanto os diretores sequenciam imagens de arquivo endossando a teoria da autora.

A partir da teoria do ‘capitalismo do desastre’, do economista norte-americano neoliberal Milton Friedman, Klein diz que a expansão do mercado livre internacional não foi um processo democrático, mas sim articulado pelos economistas filhotes de Friedman. Era feito através de golpes militares, ou a partir de desastres naturais, com o Tsunami de 2004.

Por esse raciocínio, o golpe de Pinochet no Chile, a golpe militar na Argentina dos anos 1970, a dissolução da URSS e seu posterior caos financeiro, além de outros exemplos, eram bem vindos por enriquecer mais as elites e empobrecer ainda mais a classe média.

O problema em “A Doutrina de Choque”, o filme, é seu tom professoral, que quase o faz soar como uma fragil teoria da conspiração, assustando à força mais que conscientizando. A quase total ausência de depoimentos – e excessivo e livre uso de material de arquivo sob um narraçao em off – ajudam nessa sensação.

A noite de terça-feira exibiu no Odeon o último longa competitivo da “Premiere Brasil”. Era a estreia de Marco Ricca na direção. Ao contrário de Selton Mello e Matheus Nachtergaele, o ator Ricca não foi feliz atrás das câmeras. “Cabeça a Prêmio” conta, confusamente, uma história que se passa nas fronteiras entre Brasil, Paraguai e Bolívia.

Estão envolvidos um criador de gado (Fulvio Stefanini), e sua filha (Alice Braga) apaixonada pelo piloto de avião (Daniel Hendler) de seu pai. Entram na dança dois capangas do fazendeiro, Um deles (Eduardo Moscovis) vive deprimido por ciúme da companheira (Via Negromonte), uma ex-prostitua. Junto ao personagem de Cássio Gabus Mendes, ele recebe ordem para matar o piloto por traição. Ao final de “Cabeça a Prêmio”, a grande pergunta que fica é: “qual é mesmo a intenção deste filme?”.

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