Inglaterra x Woody Allen
Câmera clara 176
Por Luiz Joaquim | 19.10.2009 (segunda-feira)
Uma das caracterísiticas dos ingleses é manter uma postura fleumática e elegante diante das vicissitudes da vida, mas parece ainda restar no DNA de alguns deles a petulância típica da cultura colonizadora que foi marca daquela Coroa por tantos anos. Prepotência e arrogância são as primeiras impressões que tivemos a tomar conhecimento das ironias postados no blog do jornal britânico The Guardian (www.theguardian.co.uk), quinta-feira, a respeito da possibilidade de Woody Allen vir filmar no Rio de Janeiro em 2012. O súdito da Rainha Elizabeth II e jornalista Stuart Heritage escreveu no artigo “Algumas regras básicas antes de Allen voar para o Rio” que não basta o Brasil ter conquistado o título de sede das Olimpíadas para 2016. O País sabe que “não pode ser visto como uma nação realmente desenvolvida até que consiga mais uma coisa: um filme neurótico e pouco visto por um senhor de idade com uma fixação pouco saudável na Scarlett Johansson”. Incrível o talento de Heritage para conseguir ser deselegante, em uma única oração, com o Brasil, com Allen e Johansson. Pelas impressões do jornalista, em outras palavras, o Brasil está desesperado para ter Allen fazendo propaganda brasileira. Acha também que ser velho é um demérito e que admirar o talento e beleza da atriz norte-americana é algo doente. E mais, determina que o filme seria “pouco visto”, o que define bem sua leitura para o que seria o sucesso de um filme – sua alta bilheteria e não seu legado cultural. O curioso é que, provavelmente Heritage não lembra ou não conhece a história de Allen para o cinema e para seu próprio país. Em 1948 os ingleses criaram o prêmio Bafta (o Oscar deles). Em suas 51 edições, seis delas premiaram Allen. Isso significa que cerca de 10% daquilo que os especialistas em cinema da Inglaterra acreditam ser um melhor filme no último meio-século saiu das mãos de Woody Allen. Ainda pelo The Guardian, a fórmula de “Vicky Cristina e Barcelona” não funcionaria no Brasil, primeiro porque não cabe no nosso país “extrovertido” as neuroses de Allen (seria, então, a Espanha um país triste?). Diz também que ninguém precisa da repetição da “fórmula” do cineasta com outra estrangeira gringa e sua visão sobre as peculiaridades do País, como acontece em “Vicky…”. Assim, o texto consegue ser mais uma vez ofensivo, vaticinando que Allen se repetiria, concluindo que a capacidade criativa deste “senhor neurótico” em atividade, com mais de 40 filmes nas últimas quatro décadas, é limitada. Para fechar com chave de ouro, o jornalista sugere que Allen atue em seu filme no Rio, de preferência “como um dançarino de carnaval”. É um inglês malvado. Quem quiser ler o texto na íntegra, é só verificar em (http://www.guardian.co.uk/film/filmblog/2009/oct/15/woody-allen-rio-de-janeiro).
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Amazônia
Entre 7 e 12 de dezembro, Porto Velho sedia o Fest Cine Amazônia 2009, exibindo em competição 46 produções, selecionados de um total de 242 filmes inscritos. Entre os escolhidos apenas um pernambucano: “Dirijo”, realizado pela Organização dos Professores Indíginas Mura (Opim) e Raoni Valle.
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BH
Começou quinta-feira a 3ª edição do Cine BH, em Minas Gerais, que este ano tem como temática a co-produção internacional e o diálogo com a França em filmes e debates. Por conta disso, o evento internacionaliza pela, primeira vez, sua programação com títulos inéditos em BH com repercussão em Cannes, Berlim, Veneza, Locarno e Toronto. Um destes filmes é “New York: Eu Te Amo” (foto). Ao todo, serão exibidos 77 obras: 24 longas, sete médias e 46 curtas-metragens, além de quatro debates com cineastas, críticos, produtores e pesquisadores. Junto a Mostra de Tiradentes e Ouro Preto, o Cine BH forma uma tríade de eventos necessária para a cultura cinematográfica mineira. Que aproveitem, os mineiros.
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Digital
Uma grande discussão em torno da ainda problemática qualidade de projeção no formato digital adotado no Brasil circula em fóruns de discussão na internet entre quem trabalha na área. Em breve o assunto deve chegar à mídia tradicional. São questão técnicas que seu detalhamento nem cabe nesse pequeno espaço, mas dizem respeito a correta fruição de um filme numa sala de cinema, obedecendo preceitos que não só beneficiam o espectador como respeitam a intenção estética original do realizador. Vamos aguardar e torcer por melhoras.
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