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Críticas

Um Lugar ao Sol

Abastados inglórios

Por Luiz Joaquim | 23.10.2009 (sexta-feira)

Quando a primeira luz do projetor do Cinema da Fundação rebater na tela e voltar atingindo a retina do espectador daquela sala, hoje às 21h na sessão de “Um Lugar ao Sol”, este espectador será atropelado por uma jamanta poética perfeitamente calibrada por imagem e som sob a batuta do cineasta Gabriel Mascaro.

Não nos referimos às imagens de páginas em movimento de um conhecido livro que lista as pessoas influentes da sociedade pernambucana, está sim, a inicial tomada vista neste seu primeiro longa-metragem solo (antes co-dirigira “KFZ-1348”, com Marcelo Pedroso). Nos referimos à imediata tomada posterior. Nela temos apenas dois elementos em cena. Ambos inanimados, mas um, literalmente, sem vida matando o outro, que ainda vive.

Mascaro não poderia conseguir imagens mais forte para abrir esta obra que convida seu espectador a tentar entender qual é a perspectiva de mundo dos moradores de cobertura residêncial no Brasil – especificamente no Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Foi ai onde entrou o livro mencionado acima, como uma espécie de guia para chegar aos personagens. Dos 125 moradores de coberturas contactados pela produção, apenas nove aceitaram participar do filme, permitindo, pela condução de Mascaro, abrir o mundo e cabeça deles para o espectador.

Era uma missão arriscada essa sua, exatamente pela tentação e facilidade com a qual tende-se a demonizar pessoas em posições privilegiadas. Essa era uma preocupação que assombrou Mascaro não só na filmagem mas na longa maturação de composição do filme (veja entrevista abaixo).

Sua estratégia para extrair os depoimentos (alguns inequivocamente chocantes a respeito de “o que é o poder?”) foi a da impessoalidade, indo na contramão de uma tendência em grande parte dos documentários contemporâneos que busca a intimidade com seu entrevistados. Mascaro manteve-se o mais distante de seus personagens até o momento da entrevista em si. Isso manteve acesa durante as conversas uma constante chama de desconfiança pelas duas partes. Desconfiança alimentadora de uma teatralidade que, se formos honestos, sempre pautou os pontos das mais altas casta sociais.

No quesito formal, temos portanto em “Um Lugar ao Sol”, um jogo de encenação que nos dá uma experiência parecida como se nos, desconhecidos, estivéssemos na sala de estar destes nove abastados moradores. E, desconhecidos que somos, somos recebidos por (quase) todos acompanhados pela polidez e educação que a boa educação lhes proveu. Não deixa de ser, entretanto, uma situação desconfortável para ambos os lados. Um sadio desconforto, digamos.

Mas, o maior desconforto vem quando algumas idéias são expostas livre e despreocupadamente. São visões inegavelmente influenciadas pelo ponto de perspectiva dos entrevistados, que moldam suas opiniões (algumas de dar medo) sobre segurança, liberdade, sucesso, espiritualidade, isolamento, poder e coletividade. Esta última a mais assustadora, se consideramos que nós, moradores da casinha ao lado do arranha-céu (maioria dos espectadores) precisa se submeter à sombra deste gigantes.

Não é o mais importante, mas é interessante registrar que “Um Lugar ao Sol” já foi exibido em festivais na Argentina, Chile, Suíça, Alemanha e EUA. Na América, foi elogiado por uma bíblia cinematográfica de lá, a revista “Variety”, que, entre outros elogios, vaticinou sobre o filme: “é uma meditação filosófica sobre o privilégio econômico”

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