Violência social no cinema
Câmera clara 180
Por Luiz Joaquim | 09.11.2009 (segunda-feira)
No livro “O Feitiço do Cinema” (Ed. ARX, 2009), em ótimo artigo intitulado “Violência e Política no Cinema”, o especialista em história da Arte da Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP (SP), Helder Jaime Juaçaba, resgata o ótimo filme “Bom Dia, Noite” (2003), do Marco Bellochio, sobre o sequestro do político italiano Aldo Moro, em 1978, para chamar a atenção, pelo reflexo do filme, de que parece não ter mais importância no nosso cotidiano eventos como a Revolução Chinesa ou os movimentos estudantis de 1968, pois o simbolismo pesa mais na balança que a razão. E diz mais. Quando a experiência de pensar a história é colocada pela “possibilidade de verdade” que é sugerida por “Bom Dia, Noite” para dirigir nosso poder de decifrar tacitamente o mundo e os homens – pode-se revelar uma boa fonte de discussão a esse respeito. Para reforçar sua teoria, Juaçaba chama Eric Hobsbawm para a conversa, transcrevendo-o a partir do livro “A Era dos Extremos”: “a maioria dos seres-humanos atua como os historiadores: só em retrospectiva reconhece a natureza de sua experiência”. Ou seja, desenvolve o autor do artigo, “os acontecimentos são traumáticos e relevantes no passado porque no [momento] presente daquele passado colocava-se em questão o próprio futuro; além do mais, ainda continuam gerando incertezas e questões para a atualidade, e consequentemente para o nosso fututo”. Seria bastante fácil enumerar uma série infidável de acontecimentos atuais em que a atuação política e crime/terror estão interligados. Vão desde os mais cotidianos até os mais emblemáticos, ou tornados emblemáticos (o 11 de setembro de 2001, vem à mente). O que os difere essencialmente – por exemplo, entre o sequestro de Aldo Moro e o 11 de setembro – é a espetacularização do terror pela mídia, que anda a galope sobre as facilidades que a tecnologia oferece cada vez mais gerando uma comunicação imediata. E o cinema, para o bem (“Bom Dia, Noite”) ou para o mal (“2012”), tem um papel importante nessa peça cultural em que somos todos espectadores.
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VITÓRIA
“Tchau e Benção”, novo curta-metragem de Daniel Bandeira, cujo lançamento aconteceu há três semanas no “2° Janela Internacinal de Cinema do Recife”, vai para seu segundo festival. Foi selecionado para compor a seleção em digital do 16° Vitória Cine e Vídeo. Junto a ele, participa também o indígina “Tsõrehipãri, Sangradouro – Divino Tserewahú”, de Tiago Campos Tôrres e Amandine Goisbault. Em 35mm, Daniel Aragão comparece com seu curta “Não me Deixe em Casa”. O evento acontece de 30 de novembro a 5 de dezembro no Espírito Santo.
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Roteiro
Entre os dias 18 e 22 de novembro, a Caixa Cultural do Rio de Janeiro transforma-se num centro de discussões sobre a linguagem cinematográfica, com o II Encontro de Roteiristas. Este ano o evento – gratuito e aberto ao público – traz roteiristas de quatro países da América Latina, ampliando as discussões para o âmbito internacional. Entre os convidados estão o chileno Andrés Wood (“Machuca” e “La Buena Vida”), Jorge Durán (“O Beijo da Mulher-Aranha” e “Pixote, A Lei do Mais Fraco”) e o secretário do Audiovisual, Sílvio Da-rin. Além das palestras e debates, o Encontro terá uma mostra de filmes na programação com diversos filmes emblemáticos do cinema latino-americano, como “La Buena Vida” (foto), de Andrés Wood..
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Duendes na “Cahiers”
Há duas semanas dissemos aqui que “Os Famosos e Os Duendes”, primeiro longa-metragem de Esmir Filho, levou o prêmio de melhor diretor no 16° Festival Internacional de Cinema de Valdívia, no Chile. Agora, a revista francesa “Cahiers du Cinéma” deu destaque à produção em sua edição mais recente. A publicação elogia o estilo do diretor e sua sensibilidade para tratar dos assuntos propostos na trama e no compartilhamento de uma visão única do mundo que algumas pessoas irão se identificar bastante. O artigo foi escrito por Nicolas Azalbert. E assim “Os Famosos…” vai moldando sua mítica mundo afora até sua estréia no Brasil, programada para 5 de março de 2010.
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