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Entrevistas

Entrevista: Anna Muylaert & Glória Pires

Conversa apurada no Festival de Brasília

Por Luiz Joaquim | 03.12.2009 (quinta-feira)

Estreia amanhã nos cinemas “É Proibido Fumar”, novo filme da diretora paulista Anna Muylaert que saiu como o grande vencedor 42º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, encerrado semana passada. A produção, um drama romântico extremamente humorado, levou sete prêmios, incluindo o de melhor filme, contando a história de uma professora de violão (Glória Pires), solteirona, que tem a vida amorosa alterada quando um músico (Paulo Miklos), muda-se para o apartamento ao lado. É o segundo longa-metragem de Muylaert, que chamou atenção com seu primeiro “Durval Discos” em 2002, e é o primeiro a trazer Glória Pires num personagem tão comum que varias espectadoras irão se reconhecer nela. Em entrevista a Folha de Pernambuco, ainda em Brasília, diretora e atriz falaram sobre semelhanças e diferenças entre os dois filmes, e também sobre seus anseios com o cinema. Confira abaixo:

ANNA MUYLAERT (cineasta)

Tanto em “Durval Discos” como em “É Proibido Fumar” temos dois protagonistas um pouco imaturos, vivendo num mundinho particular, pautado pela música. Temos um perfil pop bem marcado, não?
Acho que depois de “Pulp Ficton” todo mundo pensa em referencias pop. Seja na musica, no cinema e a própria internet ajuda isso também. Mudou muita coisa em pouco tempo. Isso faz parte da minha geração. Sim, os filmes têm semelhanças. Queria um projeto com poucos personagem e dramaturgia forte, e tenho isso nos dois filmes. São histórias que se podem contar em trës linhas. Fora isso, tudo é diferente. O andamento é diferente, a narrativa é diferente, o espectro é outro, é menor.

E sobre os personagens?
Ah sim, a Baby é o Durval. Um era dono de loja de disco, a outra toca violão. Tem gente que vive no passado, não saiu na casa dos pais, que não saiu dessa redoma inicial, e sair faz parte da passagem pra vida adulta. Mas mesmo essa pessoas que já passaram, tem uma parte que ficou no passado. Tem sempre uma parte que ficou lá atrás, se não fosse isso não havia psicanálise. Isso me interessa.

É um filme feminino? Você acha que mulheres diretoras tem espaço no cine brasileiro? Você sente algum tipo de preconceito?
No cinema não sinto, mas na TV é difícil, existe uma energia masculina lá que complica. A Baby é muito feminina. Qualquer coisa que acontece, ela vai falar logo com a irmã; se rola romance, ela pensa logo na Igreja. isso ainda é muito feminino. Ja ele (Alex, personagem de Paulo Miklos) rejeita, mas depois tem uma necessidade maior no casamento que ela.

Por que tanto tempo entre “Durval…” e “É Proibido Fumar”?
Comecei a escrever em 2004, depois vieram vários tratamentos no roteiro, mas esse tempo tem a ver com o levantamento de recursos, também tinha a agenda da Glória (Pires), a gente esperou por ela por um ano, porque estava envolvida com uma novela.

E ela sempre foi a primeira opção?
Não. Fizemos alguns testes, pensamos em outros nomes, e para cada ator definido, muda tudo. Quando ela topou, aí sim, comecei a pensar nela como Baby. Dificil foi encontra um par. Não queria uma pessoa que já tivesse feito novela com ela. Tinha de ser uma pessoa que não tivesse esse aspecto cênico que a Glória traz com ela. Tinha de ser um cara aparentemente não-politicamente correto. Aquele cara (o personagem de Paulo Miklos) tem cheiro, ela chega e já toca violão, não tem a cara limpa. A vida tá impressa na cara dele.

O título do filme “É Proibido Fumar” pode ajudar como um marketing involutário?
Espero que ajude, mas isso náo é o tema central do filme, diz mais a respeito do afastamento entre aqueles dois, como a própria parede que divide o ap dos dois.

“É Proibido Fumar” combina um equilíbrio entre comunicabilidade fácil com público sem abrir mão de inteligência cinematográfica, como consegue ajustar essa fórmula?
Eu procuro isso. É um ojetivo, eu penso nas duas coisas. Quando faço um filme não penso exclusivamente nee para o público. Eu nem saberia fazer isso. Se fosse fazer um filme só dando ao público o que ele quer, não seria a Anna Muylaert. Essa Muylaert do cinema quer algo mais sofisticado. Quando a gente faz TV, como o “Castelo Ra-tim-bum” por exemplo, a gente estuda muito o público. Esse novo filme é uma história simples, quase um filme mexicano, mas o que diferencia é o tratamento, bem delicado.

Por que filmou em CinemaScope (imagem com proporção de 2,35:1 na tela)?
Decidi fazer filmes em Scope quando estive numa edição do CineCeará e vi “Bocage: O Triunfo do Amor” (1997)do Djalma Limongi Bastista, e disse “quero isso pra mim”. Dá muito trabalho, mas quando fica pronto a gente vê que vale a pena (risos).

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GLÓRIA PIRES (atriz)

Algo no cinema te atrai mais que na TV?
Na verdade são coisas bastantes diferentes, porque vc recebe um roteiro de cinema com uma idéia fechada. Na novela, você tem uma ideia, um conceito que pode mudar no percursso. Mas, basicamente, eu busco uma nova oportunidade nas escolhas dos personagens. Oportunidade de experimentar uma forma diferente de interpretar, seja com personagens totalmente novos na minha carreira, como a Baby, seja na maneira de imprimir uma heroína diferente, como é D. Lindu (de “Lula: Filho do Brasil”).

Qual a diferença entre ser dirigida por Fábio Barreto e Anna Muylaert, cada um com intenções distintas no cinema?
O que levo do filime é a mensagem que ele me dá. Não a quantidade de dinheiro que foi coocado nele. Não tenho como falar dessa ótica. Quando você faz um filme, vc quer que todo mundo o veja. Ninguém gasta uma grande energia e dinheiro para só três pessoas verem. Acho que cada um tem sua forma de contar histórias, são estilos. Posso dizer o que me atraiu nos dois trabalhos. A Anna eu conhecia do “Durval Discos”, fiquei curiosa de trabalhar com ela. Com Fábio já trabalhei bastante. Admiro a família Barreto, fizemos coisas incríveis e outras coisas mais delicadas.

O que mais te atraiu na Baby?
Vendo “Durval Disco” a gente percebe o quanto a Anna privilegia o personagem. A narrativa é em função do personagem. Ela é mostrada naturalmente, como ela realmente é. Isso foi um convite irrecusável. Eu já lia o roteiro me divertindo.

Que relações faz entre Baby e Durval (protoganista de “Durval Discos”)?
Ele (Durval) também está parado no tempo, ali no mundinho dele, ele é a resistência. E a Baby também, mas a Baby tem uma maluquice não muito revelada, ao contrário do Durval.

E como foi trabalhar com o Paulo Miklos?
Muito bom. Tive uma identificação, mais que isso, uma confiança com ele instantanea. E isso já no primeiro dia. Ele tava sempre disponível. Não tinha atitude hardcore, era Bossa Nova. Nem fazia o tipo “nao sou ator, vou fazer de qualquer jeito”, tampouco tinha estrelismos.

Com três filmes de destaque recentes – “Se Eu Fosse Você 2”, “Lula: Filho do Brasil” e “É Proibido Fumar”, pode-se dizer que há uma inclinação hoje de Glória Pires para o cinema?
Sempre estou disponível para o cinema. Acho que todo ator tem essa inclinação. É muito boa essa ideia de ficar para a eternidade (risos). Mas náo aceito qualquer convite. Eu preciso concordar com o que está escrito.

Algum diretor que você gostaria de trabalhar no cinema?
Eu iria atrás do projeto e menos do cineasta. A gente tem pessoas talentosisimas por aí, mas às vezes não tem recursos, o que é um pena.

E voltando para 1996, como foi a experiência de estar na cerimônia do Oscar com “O Qu4trilho”, de Fábio Barreto?
Quando eu era adolescente, eu não perdia uma cerimônia. Me juntava com o Laurinho (o ator Lauro Corona, 1957-1989, que fez par romântico com Glória na novela “Dancin’ Days”, 1978) e nos divertiamos muito. Mas quando eu fui lá, incorri num erro, que foi a falta de maturidade. Fui com a sensação que tinha na adolescência. Fui meio como “Baby” iria. Eu tenho é de voltar lá agora madura, pra ver o que acontece (risos).

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