Contatos de 4º Grau
Você sabe o que abdução? É um assunto que poucos sabem explicar de maneira convincente
Por Luiz Joaquim | 04.01.2010 (segunda-feira)
Uma das funções do cinema é fazer você acreditar no que está vendo. Quando você imerge nas imagens e na história que lhe é contada, o filme já alcançou metade de seu objetivo. Já quando o espectador se vê querendo entender o que está acontecendo na sua frente, então a obra ultrapassa essa expectativa. É o que acontece com Contatos de 4º grau (The Fourth Kind, EUA, 2009), longa-metragem do norte-americano novato na direção, Olatunde Osunsanmi, já em cartaz nos multiplex desde 1º de janeiro.
Em decorrência das críticas negativas nos EUA, o filme foi lançado quase que pedindo desculpas no Brasil. Mas parecer haver uma distorção de foco destas críticas quando elas teimam em questionar a consistência e veracidade do caso de abdução na produção de Contatos de 4º grau.
Antes, é bom situar sobre a classificação feita por ufólogos sobre os vários tipos de contato com os alienígenas. O de primeiro grau acontece ao ver um deles ou um Objeto Voador Não Identificado; o de segundo é quando vestígios são deixados; o de terceiro quando há comunicação (e para este temos o clássico cinematográfico feito por Steven Spielberg em 1977); e o de quarto grau quando humanos são sequestrados e devolvidos psico e biologicamente alterados, ou seja, quando acontece a abdução.
Voltando ao filme de Osunsanmi, aparentemente foi a opção do diretor de dividir, em alguns momentos, a tela mostrando a performance de atores conhecidos (Milla Jovovich, Elias Koteas e Will Patton) ao lado de supostas gravações reais em áudio e vídeo realizadas em 2000 pela psicóloga Abigail Tyler junto a seus pacientes (não creditados no elenco) que incomodou a crítica norte-americana. Para eles, não havia sentido em fazer o espectador comparar uma dramatização pobre ao lado da imagem “real” (atenção para as aspas) tão mais excitante. Seria como assinar sua própria incompetência.
Seria, se não soubéssemos que Contatos de 4º grau é um filho direto do legado deixado pelo genial A bruxa de blair (1999) – filme vendido como um real documentário com restos de imagens autênticas para o misterioso sumiço de estudantes de cinema. Os eventos no longa-metragem de Osunsanmi acontecem numa cidade que realmente existe no Alasca, chamada Nome. É um vilarejo de três mil habitantes com um concreto e impressionante número de pessoas desaparecidas. Para reforçar a ideia de “verdade” por trás da história da Dra. Abigail Tyler, a Universal Pictures plantou, junto aos jornais locais da cidade, falsos artigos, matérias e falsos obituários sobre pessoas desaparecidas. Sendo assim, Contatos de 4º grau é sim um belo trabalho de convencimento a partir de uma mentira bem contada (e o que é o cinema senão isso mesmo?).
Mentira entre aspas, pois sabe-se também que Osunsanmi fez uma larga pesquisa a partir de relatos de abduçao, que somam 11 milhões em todo o mundo desde os anos 1930, e seu filme, ou sua Dra. Abigail Tyler e os fenômenos com seus pacientes, nada mais é que o somatório dessas várias histórias registradas ao redor do planeta.
ASSUSTADOR – O que torna Contatos… especialmente convincente é exatamente a sagacidade no roteiro, também de Osunsanmi, em juntar num mesmo projeto dois temas misteriosos por si só. O hipnotismo e a abdução. No enredo, o primeiro é utilizado pela psicóloga Abigail (Jovovich na dramatização e, supostamente, a própria Abigail nas imagens de arquivo) em seus pacientes. Sua intenção é descobrir o que está por trás daquilo que os faz acordar todas as noites, sempre as 3h33, tendo na lembrança consciente a imagem de uma coruja que os observava pela janela.
Sob hipnose, um a um reage igualmente de forma desesperada no momento em que revivem a visão da coruja. Urrando de pavor absoluto e sofrendo convulsões, os pacientes voltam à consciência transformados e debilitados fisicamente, como se, na hipnose, revivessem o trauma e lhes fossem revelado algo intraduzível em palavras.
São nesses momentos que Contatos de 4º grau faz o espectador se perguntar o que é aquilo que está acontecendo na sua frente. Isso porque os supostos vídeos das sessões terapêuticas da Dra. Abigail são bastantes convincentes em sua confecção como material de arquivo. As imagens são toscas, o enquadramento é pobre e há problemas de estática na imagem quando os pacientes sob hipnose passam por uma experiência paranormal.
Ou seja, o que Contatos de 4º grau não nos deixa ver é exatamente o que perturba o seu espectador. Aos que ficaram insatisfeito com Atividade paranormal – outro filho direto de A bruxa de blair e em fim de temporada nos cinemas – por apenas sugerir e quase não explicitar com imagens, vale dizer que Contatos… dá sim algumas imagens assustadoras graficamente, que farão o espectador mais sensível ter medo na hora de ir para a cama à noite.
Uma curiosidade, o diretor Olatunde Osunsanmi aparece no filme como o entrevistador de um programa da Universidade Chapman (uma universidade real, na Califórnia) conversando com a “verdadeira”, catatônica e de olhos esbugalhados Abigail Tyler.
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