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Críticas

Lula: O Filho do Brasil

Para comover, a pulso

Por Luiz Joaquim | 01.01.2010 (sexta-feira)

Aquela citação, “Falem mal de mim, mas falem de mim”, da poetisa Natália Correia, parece encaixar bem a ideia por trás do lançamento de “Lula: O Filho do Brasil” (Bra., 2010), o 9° longa de Fábio Barreto que assalta 500 salas de cinema no País a partir de hoje. É o maior lançamento comercial de um filme brasileiro. Filme este que é também o mais caro da história do nosso cinema (falam em R$ 16 milhões). Ainda não é o mais polêmico (lembrem de “Cidade de Deus”) mas ainda dá tempo para ser o maior fracasso, considerando outra sabedoria popular, que diz: “quanto maior a altura, maior a queda”.

Mas por que foram lançadas tantas especulações negativas sobre este que um projeto de vida ou morte para os produtores Luís Carlos e Lucy Barreto (que anunciaram a aposentadoria após este trabalho)? Parte dessa resposta se deve as sessões prévias em novembro, no Festival de Brasília e aqui no Recife. Foram mostras para um público restrito, mas bastante especializado que enxergou problemas sérios ali. Um deles seriam a falta de carisma e pouca tensão num enredo que já nasceu pronto. A vida de Luís Inácio Lula da Silva conta uma história de comover qualquer um mas que, no filme, conduzida sob uma dramaturgia raquítica, não (ou pouco) envolvem o espectador. A versão para o cinema é baseada em livro homônimo (lançado pela Editora Perseu Abrano, 2003) de Denise Paraná (co-roteirista no longa junto a Daniel Tendler e Fernando Bonassi).

Outro ponto: numa época em que o cinema brasileiro já se desvencilhou de uma direção de arte higienizada de para mostrar a pobreza, o trabalho de Gustavo Hadba em “Lula, o Filho do Brasil” ainda aposta no inverso, com uma assepsia visual que compromete o envolvimento do espectador.

Se salvam nesse terreno delicado, o empenho do estreante no cinema Rui Ricardo Diaz como o protagonista; até por ser seu personagem o único com fala suficiente e tempo de desenvolvimento dramático na tela. Milhen Cortaz, outro ótimo ator, virou aqui o pai do Lula que se resume a um bêbado no modo violento/babão. Glória Pirez consegue manter a dignidade como Dona Lindu, mas não se pode enxergar em seu personagem a imagem que quiseram vender aos espectadores de “mãe heroi” no filme.

A idéia de “mãe heroi”, inclusive, tem feito circular um conceito equivocado (e que tem “pegado” na mídia) de que o filme de Fábio Barreto seria uma espécie de “2 Filhos de Francisco” (2005), de Breno Silveira, ou melhor, seria “O Filho de Dona Lindu”. Além da grande diferença na dimensão dos personagens de Lindu e Francisco, o filme de Barreto não estimula reflexão pelos silêncios, como fez Silveira, nem possui momentos palpáveis de real tensão para sugerir clímax ao seu público.

É claro que este público deve ir inicialmente ao cinema movido pela curiosidade de milhares de brasileiros em ver na tela a história deste que um dos líderes mais popular do mundo, e não só por isso, mas por ser o nosso líder, nosso conterrâneo (dos brasileiros). Entretanto, o mais pontente e centenário agente de divulgação cinematográfico, o boca-a-boca, pode se encarregar de encurtar a carreira de “O Filho do Brasil”.

Há ainda um outro fator polêmico que deve atrair políticos às salas de cinema (está sim, uma imagem rara). Diz respeito Ós acusações que o filme tem conotações eleitoreiras. Mas aí é algo a ser analisado por especialistas da política, e não de cinema.

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